Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

quarta-feira, 21 de março de 2012

As fábulas de Esopo em uma nova versão - Primeira Guerra Mundial

Atividades: Primeira Guerra Mundial



Objetivos: Analisar as imagens e as fábulas relacionando-as com os acontecimentos da Grande Guerra.
Obs. Foi mantida a escrita original (ipsis litteris)




Esopo e as Fábulas
Esopo nasceu na Frigia, quase seis séculos antes de Cristo. Foi escravo nos primeiros anos da vida em Atenas e Samos. Esopo soube ganhar a estima do filosofo Jadmon( ou Janto de Samos) de quem era escravo. Impressionado com o talento de Esopo, que prelecionava moralidade em forma de apólogos, concedeu-lhe a liberdade. Alforriado, saiu para a Ásia Menor e para Sardes, e ganhou a amizade de Creso (último rei da Lídia da Dinastia Mermnada (560-546 aC), por longos anos.
Foi Esopo enviado à Grécia por Creso e assistiu, no dizer de Plutarco, ao banquete dos sete sábios, em casa de Periandro, tirano de Corinto, um dos sete. Provavelmente foi nesta viagem que ele se esforçou por incutir paciência aos atenienses avexados por Periandro, contando-lhes a fábula das rãs que pediram um rei. Por último, passou a Delphos, onde, conforme as ordens de Creso, devia imolar um grande holocausto a Apolo, e dar a cada habitante considerável quantia.
Irritado, porém, com a cupidez e perfídia dos délficos, reenviou a Creso o dinheiro, que devia repartir pelos moradores, cujo amor próprio exulcerou, aplicandolhes a fábula dos cajados flutuantes. Exasperados pelos escárnios, juraram vingar-se e, neste intento, esconderam na bagagem de Esopo uma taça de ouro pertencente à baixela do templo. Acusado de a ter roubado, Esopo foi perseguido, apalpado, julgado réu, e condenado ao precipício da rocha Hiampéia, à laia de sacrifício.
Fonte: E.M.Campagne, Dicionário de Educação e Ensino, vol. 1, págs. 926-928
A Virtude
Os atenienses levantaram ao talento
de Esopo uma estátua, e colocaram-na,
embora escravo, num pedestal eterno,
para que se saiba que a todos está aberto
o caminho da honra, e que a glória se
atribui, não à linhagem, mas à virtude.
Fedro

O Gênero de Esopo
Na sua fábula intitulada Prologus - Auctor (VV. 1-4), o fabulista latino Fedro escreve:
Exemplis continetur Aesopi genus;
Nec aliud quidquam per fabellas quaeritur
Quam corrigatur error ut mortalium
Acuatque sese diligens industria.

O gênero de Esopo é constituído de exemplos;
e por meio de fábulas não se pretende outra coisa
senão que seja corrigida a ignorância dos mortais
e estimulada a sua atividade consciente.

















E em outra fábula, Phaedrus ad Eutychum (VV.33-7), o mesmo autor acrescenta:
Nunc fabularum cur sit inuentum genus

Breui docebo: Seruitus obnoxia,

Quia, quae uolebat, non audebat dicere,

Affectus próprios in fabellas transtulit,

Calumniamque fictis elusit iocis.


Agora resumidamente ensinarei por que foi inventado o gênero das fábulas: Como a escravidão submissa não ousava dizer o que queria, disfarçava em fábulas os seus próprios sentimentos, esquivando-se da punição com imaginosos divertimentos.
Entretanto, ao que parece, cabe às fábulas esópicas o mérito da primazia em atribuir alegoricamente virtudes e defeitos humanos a determinados animais, como, por exemplo: ao leão, a majestade; à raposa, a velhacaria; ao lobo, a brutalidade; ao camelo, a complacência; à formiga, a previdência.

Fonte: Anotado do Professor da UFRJ, Manuel Aveleza de Souza "As Fábulas de Esopo", Thex Ed., Rio de Janeiro, 1999, p. XXIX.




As Fábulas de Esopo Modernizadas adaptadas para a 1ª. Guerra mundialTuck`s Post Card


Trata-se de uma série de 6 cartões postais sobre as fábulas de Esopo adaptadas para a primeira guerra mundial. No verso dos cartões há sempre uma explicação resumida da fábula e da histórica aliança dos países em guerra. Com desenhos de F.Sancha, 1915 (circa) segundo o catalogo Neudin "Illustrateurs" , 1991, pag. 380.
1 - O Lobo e a Cegonha (Turquia e Alemanha)







Veja também:
Esopo e-book

O Estopim da 1ª. Guerra Mundial
Em 29 de junho de 1914, o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro anunciava em suas páginas, um atentado anarquista ocorrido na cidade de Sarajevo:
"O Arquiduque Francisco Fernando e sua esposa acabam de ser vitimas de um atentado. Quando o cortejo em que seguiam os herdeiros do trono imperial marchava em direção à Municipalidade, um tipógrafo, por nome de Cabrinovic , natural de Trebinje (Herzegoniva), arremessou contra a carruagem do Arquiduque uma bomba cheia de pregos e cujo invólucro era constituído por uma garrafa. A bomba, batendo no assento traseiro do carro, caiu no chão e explodiu justamente quando sobre ele passava a segunda carruagem, onde seguiam vários membros da comitiva, entre os quais o coronel Merrido, ajudante de campo do Arquiduque, que foi atingido no pescoço por um estilhaço, e o Conde de Booszu-Waldeck, que também ficou ferido. Além destas também ficaram feridas mais nove pessoas".
"No momento, porém, em que o cortejo dobrava a esquina das ruas Rodolpho e Francisco José, um mancebo, que se destacou bruscamente do público apontou uma pistola browning e desfechou-a quatro vezes contra a carruagem de suas altezas. O Arquiduque, que a principio tinha sido atingido no rosto, ficou mortalmente ferido no lado direito do ventre, ao mesmo tempo em que a Arquiduquesa, com a carótida cortada por outra bala, lhe caía sobre os joelhos."Este episódio ficou conhecido como o estopim da 1ª. Grande guerra.


Obs: Veja detalhes e histórias no Dossiê O Mundo em Armas, publicado na revista de História da Biblioteca Nacional, número 37, outubro 2008, pags. 14-34.

O Brasil na 1ª Guerra Mundial
Repetidos afundamentos de navios mercantes brasileiros, entre outros o Paraná (abril de 1917), o Tijuca ( maio de 1917), o Lapa (também em maio), o Macau (outubro de 1917), levaram o país, em outubro de 1917, a declarar guerra ao império alemão e a seus aliados - o império Austro-Húngaro, o Império Otomano e a Bulgária. O Brasil veio a se juntar aos Aliados, entre eles a França, Reino Unido, Rússia, Grécia, Bélgica, Portugal, Itália, Sérvia, EUA, Japão e Romênia.A frota brasileira, conhecida como DNOG - Divisão Naval em Operações de Guerra - foi formada com 2 cruzadores, 4 contratorpedeiros, 1 rebocador e 1 navio-tênder, para apoio e abastecimento. A missão teve inicio em maio de 1918 saindo a esquadra do porto do Rio de Janeiro e deixando o território brasileiro em 1 de agosto, de Fernando de Noronha em direção a Freetown, em Serra Leoa, na África. Em 25 de agosto, quando rumava para Dakar, na África, escaparam por pouco de um ataque de submarino. Com a missão de patrulhar submarinos germânicos, a esquadra brasileira foi devastada por outro inimigo, quando em 6 de setembro, em Dakar, a gripe espanhola irrompeu com toda a sua virulência, derrubando a tripulação. Deixando Dakar no fim de outubro em direção a Gibraltar com apenas um cruzador e 3 contratorpedeiros, a frota brasileira já estava semi destruída e com vários mortos sem levar um único tiro. Em 10 de novembro de 1918, o restante da esquadra chegou a Gibraltar, mas como dizem que "Deus é brasileiro", no dia seguinte, em 11 de novembro de 1918, foi assinado o armistício que pôs fim a guerra.


Obs: Veja detalhes e outras histórias deste pesadelo no artigo "Pior do que a Guerra", do historiador Francisco Eduardo Alves de Almeida em Revista Histórica da Biblioteca Nacional, número 37, outubro 2008, pags. 30-31.

As Fábulas de Esopo Modernizadas

A Turquia e a Alemanha
O Lobo e a Cegonha
O lobo engasgado pede a cegonha que lhe tire o osso atravessado na garganta; a cegonha o extrai com seu bico e pede recompensa pelo seu trabalho. Mais recompensa!, exclama o lobo, porventura não fostes bastante recompensada quando deixei de devorar a tua cabeça ?Esta imagem aqui se reporta a aliança entre a Alemanha e a Turquia, lembrando que esta terá de se contentar com bem pouco reconhecimento pelos serviços prestados.
Fonte: Tuck`s Post card texto no verso do postal desenhado por F Sancha , 1915 circa.
O Lôbo e a Cegonha
Barão de Paranapiacaba (trad.)

Vorazes comem lobos;
Nada lhes vence a gana;
Eis o que fez um deles:

Em farta comezaina,

Tão sôfrego engolira,
Sua avidez foi tanta,

Que de través lhe fica

Um osso na garganta.

Sentindo-se engasgado


E sem poder gritar,

Julgou-se na agonia

E prestes a expirar.


Uma cegonha (ó dita !)

Passa dali vizinha;

Chamada por acenos,


Vem acudi-lo asinha.
Com grande habilidade
Procede à operação;

Retira o osso - e a paga
Requer do comilão.
" A paga ! (exclama o lobo) Comadre!

Estás brincando!
Pois não te deixo livre,
A vida desfrutando ?







Não me saiu dos dentes

Tua cabeça intata ?

Vai-te e das minhas garras

Cuida em fugir ingrata !"

A Turquia No Século XVI
(Como o tempo passa e modifica o mundo)
O mais forte Estado que pareça haver ao presente no mundo (século XVI), é o dos turcos: povos igualmente formados na estima das armas e no desprezo das letras. Roma, acho-a mais valorosa antes de tornar-se sábia. As mais belicosas nações dos nossos dias são as mais grosseiras e ignorantes. Servem de prova os citas, os partas e Tamerlão. Quando os Gôdos devastaram a Grécia, o que salvou do fogo todas as bibliotecas foi esta opinião, propalada por um deles: que era mister deixar aos inimigos todos aqueles trastes, próprios para desviá-los do exercício militar e entretê-los em ocupações sedentárias e ociosas. E quando, sem tirar a espada da bainha, o nosso rei Carlos VIII (1470-1498), se viu dono do Reino de Nápoles e de boa parte da Toscana, a atribuíram, os senhores do seu séquito, essa inesperada facilidade de conquista a andarem os príncipes e os nobres da Itália mais ocupados em fazer-se engenhosos e sábios do que vigorosos e guerreiros. (Michel de Montaigne 1533-1592)
Fonte: Montaigne, M. "Seleta dos Ensaios de Montaigne", liv. José Olympio, coleção Rubaiyát, Rio, 1961, vol. 1/3, 303 págs.


A Galinha e os Ovos de Ouro



O camponez avarento que tenta enriquecer-se à pressa, e mata a galinha que deita is ovos de ouro, só para se ver privado da sua fonte de riqueza:O comercio marítimo alemão, manancial de tanta riqueza, queda por completo arruinado pela insana cobiça que impeliu a Alemanha a forçar esta guerra sobre a Europa.


A Galinha que punha Ovos de Ouro


Tudo a avareza perde

Se tudo quer ganhar;

Basta-me, em prova disto,

Um fato aqui narrar.

Deitava uma galinha

Por dia um ovo d'ouro;

Julgou-a o dono um cofre

De perenal tesouro.

Tirou-lhe a vida, abriu-a

E achou o seu ovário

Igual ao das que botam

Qualquer ovo ordinário.

Assim, cedendo à força

Do baixo instinto ávaro,

De motu próprio extingue

Seu cabedal mais raro.

Barão de Paranapiacaba (trad.)(1827-1915)

A Tartaruga e o Lebre

O camponez avarento que tenta enriquecer-se à pressa, e mata a galinha que deita is ovos de ouro, só para se ver privado da sua fonte de riqueza:O comercio marítimo alemão, manancial de tanta riqueza, queda por completo arruinado pela insana cobiça que impeliu a Alemanha a forçar esta guerra sobre a Europa.
Fonte: Tuck`s Post card texto no verso do postal desenhado por F Sancha , 1915 circa,anotado ipsis litteris do original.


A Lebre e a Tartaruga

"Apostemos, disse à lebre
A tartaruga matreira,

Que eu chego primeiro ao alvo

Do que tu, que és tão ligeira!"

Dado o sinal de partida,

Estando as duas a par,

A tartaruga começa

Lentamente a caminhar.

Lebre, tendo vergonha

De correr diante dela,

Tratando um tal vitória

De peta ou de bagatela,

Deita-se, e dorme o seu pouco;

Ergue-se, e põe-se a observar

De que parte corre o vento,

E depois entra a pastar;

Eis deita uma vista d'olhos

Sobre a caminhante sorna

Inda a vê longe da meta,

E a pastar de novo torna.
Olha; e depois que a vê perto,

Começa a sua carreira;

Mas então apressa os passos

A tartaruga matreira.

À meta chega primeiro,

Apanha o prêmio apressada,

Pregando à lebre vencida

Uma grande surriada.

Não basta só haver posses

Para obter o que intentamos;

É preciso pôr-lhe os meios,

Quando não, atrás ficamos.

O contendor não desprezes

Por fraco, se te investir;

Porque um anão acordado

Mata um gigante a dormir.


Curvo Semedo (Trad.)(1766-1838)

A Rapôsa e as Uvas verdes

A raposa esfaimada, não podendo atingir os cachos de uvas maduras , proclama nas uvas verdes, e que não as quer.Os alemães, frustrados na suas tentativas de tomar Paris, Calais, Petrogrado e Verdun, pretendem que seus objetivos não eram taes.
Fonte: Tuck`s Post card texto no verso do postal desenhado por F Sancha , 1915 circa,anotado ipsis litteris do original.

A Rapôsa e as Uvas


Contam que certa raposa,


andando muito esfaimada,
viu roxos maduros cachos
pendentes de alta latada.
De bom grado os trincaria,
mas sem lhes poder chegar,
disse: "estão verdes, não prestam,
só cães os podem tragar !"
Eis cai uma parra, quando
prosseguia seu caminho,
e crendo que era algum bago,
volta depressa o focinho.













Moral: Quem desdenha quer comprar
Bocage (trad.)(1765-1805)



O Cão e sua Sombra



O cão que leva o bocado de carne, vê o seu reflexo nas águas, e arrojando se a sombra, perde o bom bocado:Perdeu a Alemanha a prosperidade tão laboriosamente adquirida, sacrificando-a ao seu devaneio de conquistar o mundo.
Fonte: Tuck`s Post card texto no verso do postal desenhado por F Sancha , 1915 circa, anotado ipsis litteris do original.

O Cão que pela sombra larga a Prêsa

Um cão passando ia um rio a nado,

E levava de carne um bom bocado;

Via n'água a sua sombra, e, presumindo

Que era outro cão, que dele ia fugindo,
E que presa maior inda levava,

Com fim de lha tirar se arreganhava,

Naquele abrir de boca lhe caía

A carne, e nem mais sombras dela via.


Couto Guerreiro (Trad.)(1720-1793)

A Tartaruga e a Águia



A tartaruga que pede a águia para ensiná-la a voar, é levada pela águia aos ares, cae a terra e espedaça-se:A Bulgária, induzida a guerra pela Alemanha , sofrerá a penalidade imposta pela sua tresloucada ambição.
Fonte: Tuck`s Post card texto no verso do postal desenhado por F Sancha , 1915 circa,anotado ipsis litteris do original.

A Tartaruga e a Águia
Imaginem, uma Tartaruga que mal sabe andar, foi pedir a uma águia que lhe ensinasse a voar. A águia olhou para aquele bicho e viu que a tartaruga não pode voar de jeito nenhum.


Acontece que ela não é somente um animal casca dura, mas também cabeça dura; e insistiu no pedido. A águia foi perdendo a paciência e como não adiantava falar mais nada, agarrou-a com as suas garras, elevou-se no ar e largou-a de lá de cima. A tartaruga, sem azas e sem juízo, arrebentou-se no chão. Quando soube que uma tartaruga voou, outra maluca foi contatar os patos.