Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Em Ouro Preto, Laurentino Gomes diz não escrever para historiadores

Escritor e jornalista participou do Fórum das Letras.
Depois de ‘1808’ e ‘1822’, o autor prepara a obra ‘1889’.
Raquel Gondim Do G1 MG
O escritor e jornalista paranaense Laurentino Gomes, autor dos best-sellers ‘1808’ e ‘1822’, participou do Fórum das Letras, em Ouro Preto (MG). Ele falou sobre o papel do escritor em ampliar o acesso à informação e do modo como ele associa o jornalismo e a História. Para Gomes, o sucesso de ‘1808’ e ‘1822’, que retratam, respectivamente, a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil e o processo de independência brasileiro, se deve ao interesse da sociedade em acompanhar de forma leve e acessível os fatos que marcaram o passado do país. “Uso elementos pitorescos e, às vezes, engraçados para conduzir o leitor a um mergulho mais profundo à sua própria história”, justificou. O autor disse que encara de maneira natural as críticas de alguns historiadores. “Tenho que aprender a conviver com isso. Para algumas pessoas, gera desconforto um jornalista escrever um livro de história que vira best-seller”, comentou. Apesar disso, o escritor disse que, de maneira geral, as obras têm sido bem recebidas entre os historiadores. “Eles estão sendo mais generosos do que eu podia imaginar. Pelo menos em público”, salientou. “Porém, o sucesso no Brasil ainda é muito mal visto”, continuou. Gomes diz que escreve “livros-reportagens de História” e classifica o jornalista como um “historiador do dia a dia”. Para ele, é uma tendência que profissionais de diferentes áreas usem meios acessíveis para transportar suas especialidades ao grande público. “O Drauzio Varella faz isso com a medicina, a Márcia Tiburi com a filosofia e a Ana Beatriz Barbosa Silva fez o mesmo com a psiquiatria ao escrever 'Mentes perigosas'', citou.
Ele destacou o interesse em atingir um público generalizado, a partir de uma linguagem compreensível para todos. “Eu não escrevi os dois títulos para historiadores, mas sim para professores que buscam uma maneira de chamar a atenção dos alunos e para a sociedade em geral”, enfatizou. Conforme ele, este é o mesmo propósito que o impulsionou a começar suas pesquisas para redigir o livro ‘1889’, sobre o Segundo Reinado e a Proclamação da República, seu próximo lançamento. Depois da trilogia, o escritor pretende produzir uma biografia de Dom Pedro I, porém, destacou que há um longo caminho até estar pronto para o gênero. “Teria que mudar a minha forma de trabalho e me dedicar às fontes primárias”, explicou. “Seriam anos de pesquisas no arquivo público”, apontou. O autor comentou sobre como a história e seus personagens se transformam com o passar do tempo, de acordo com o modo que as gerações atuais enxergam as anteriores. “O passado é modificado para atender o presente”, resumiu.

Fonte:http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/11/em-ouro-preto-laurentino-gomes-diz-nao-escrever-para-historiadores.html

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O ENEM e à indústria do vestibular

Nicolelis: Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo
por Conceição Lemes

Desde o último final de semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Ministério da Educação (MEC) estão sob bombardeio midiático.
Estavam inscritos 4,6 milhões estudantes, e 3,4 milhões submeteram-se às provas. O exame foi aplicado em 1.698 cidades, 11.646 locais e 128.200 salas. Foram impressos 5 milhões de provas para o sábado e outros 5 milhões para o domingo. Ou seja, o total de inscritos mais de 10% de reserva técnica.
No teste do sábado, ocorreram dois erros distintos. Um foi assumido pela gráfica encarregada da impressão. Na montagem, algumas provas do caderno de cor amarela tiveram questões repetidas, ou numeradas incorretamente ou que faltaram. Cálculos preliminares do MEC indicavam que essa falha tivesse afetado cerca de 2 mil alunos. Mas o balanço diário tem demonstrado, até agora, que são bem menos: aproximadamente 200.
O outro erro, de responsabilidade do Inep, foi no cabeçalho do cartão-resposta. Por falta de revisão adequada, inverteram-se os títulos. O de Ciências da Natureza apareceu no lugar de Ciências Humanas e vice-versa. Os fiscais de sala foram orientados a pedir aos alunos que preenchessem o cartão, de acordo com a numeração de cada questão, independentemente do cabeçalho. Inep é o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC encarregado de realizar o Enem.
“Nenhum aluno será prejudicado. Aqueles que tiveram problemas poderão fazer a prova em outra data”, tem garantido desde o início o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Isso é possível porque o Enem aplica a teoria da resposta ao item (TRI), que permite que exames feitos em ocasiões diferentes tenham o mesmo grau de dificuldade.”
Interesses poderosos, porém, amplificaram ENORMEMENTE os erros para destruir a credibilidade do Enem. Afinal, a nota no exame é um dos componentes utilizados em várias universidades públicas do país para aprovação de candidatos, além de servir de avaliação para bolsa do PRO-UNI.
“Só os donos de cursinhos e aqueles que não querem a democratização do acesso à universidade podem ter algo contra o Enem”, afirma, indignado, ao Viomundo o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos EUA, e fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte.
“Eu vi a entrevista do ministro Fernando Haddad ao Bom Dia Brasil, TV Globo. Que loucura! Como jornalistas que num dia falam de incêndio, no outro, de escola de samba, no outro, ainda, de esporte, podem se arvorar em discutir um assunto tão delicado como sistema educacional? Pior é que ainda se acham entendedores. Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo!
Nicolelis é um dos maiores neurocientistas do mundo. Vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde há décadas existe o SAT (Standart Admissions Test), que é muito parecido com o Enem. Tem três filhos. Os três já passaram pelo Enem americano.

Entrevista:
Viomundo — De um total de 3,4 milhões de provas aplicadas no sábado, houve problema incontornável em menos de 2 mil. Tem sentido detonar o Enem, como a mídia brasileira tem feito? E dizer que o Enem fracassou, como um ex-ministro da Educação anda alardeando?
Miguel Nicolelis — Sinceramente, de jeito algum — nem um nem outro. O Enem é equivalente ao SAT, dos Estados Unidos. A metodologia usada nas provas é a mesma: a teoria de resposta ao item, ou TRI, que é uma tecnologia de fazer exames. Ela foi criada há 100 anos e está em uso desde a década de 50. Curiosamente, em outubro de 2005, entre as milhões de provas impressas, algumas tinham problema na barra de códigos onde o teste vai ser lido. A entidade que faz o exame não conseguiu controlar, porque esses erros podem acontecer.

Viomundo — A Universidade de Duke utiliza o SAT?
Miguel Nicolelis — Não só a Duke, mas todas as grandes universidades americanas reconhecem o SAT. É quase um consenso nos Estados Unidos. Apenas uma minoria é contra. E o Enem, insisto, é uma adaptação do SAT, que é uma das melhores maneiras de avaliação de conhecimento do mundo. O teste é a melhor forma de avaliar uniformemente alunos submetidos a diferentes metodologias de ensino. É a saída para homogeneizar a avaliação de estudantes provenientes de um sistema federativo de educação, como o americano e o brasileiro, onde os graus de informação, os métodos, as formas como se dão, são diferentes.

Viomundo — Qual a periodicidade do SAT?
Miguel Nicolelis – Aqui, o exame é aplicado sete vezes por ano. O aluno, se quiser, pode fazer três, quatro, cinco, até sete, desde que, claro, pague as provas. No final, apenas a melhor é computada. Vários estudos feitos aqui já demonstraram que o SAT é altamente correlacionado à capacidade mental geral da pessoa.
Todo ano as provas têm uma parte experimental. São questões que não contam nota para a prova. Servem apenas para testar o grau de dificuldade. Outro peculiaridade do sistema americano é a forma de corrigir a prova. É desencorajado o chute.

Viomundo — Explique melhor.
Miguel Nicolelis — Resposta errada perde ponto, resposta em branco, não. Por isso, o aluno pensa muito antes de chutar, pois a probabilidade de ele errar é grande. Então se ele não sabe é preferível não responder do que correr o risco de responder errado.

Viomundo – Interessante …
Miguel Nicolelis – Na verdade, o SAT é a maneira mais honesta, mais democrática de avaliar pessoas de lugares diferentes, com sistemas educacionais diferentes, para tentar padronizar a forma de ingressar na universidade. Aqui, nos EUA, a molecada faz o exame e manda para as faculdades que quer frequentar. E as escolas decidem quem entra, quem não entra. O SAT é um dos componentes para essa avaliação. Dela fazem parte, notas ao longo da vida acadêmica, redação, entrevista…

Viomundo — Nos EUA, tem cursinho para entrar na faculdade?
Miguel Nicolelis — Tem para as pessoas aprenderem a fazer o exame, mas não é aquela loucura da minha época. Era cheio de cursinho para todo lugar no Brasil. Cursinho é uma máquina de fazer dinheiro. Não serve para nada a não ser para fazer o exame. Por isso ouso dizer: só os donos de cursinho e aqueles que não querem democratizar o acesso à universidade podem ter algo contra o Enem.

Viomundo –Mas o fato de a prova ter erros é ruim.
Miguel Nicolelis — Concordo. Mas os erros vão acontecer. Em 1978, quando fiz a Fuvest (vestibular unificado no Estado de São Paulo), teve pergunta eliminada, pois não tinha resposta. Isso acontece desde o tempo em que havia exame para admissão [ao primeiro ginasial, atualmente 5ª série do ensino fundamental) na época das cavernas (risos). Você não tem exame 100% correto o tempo inteiro.
Então, algumas pessoas estão confundindo uma metodologia bem estudada, bastante conhecida e aceita há décadas, com problemas operacionais que acontecem em qualquer processo de impressão de milhões de documentos. Na dimensão que aconteceu no Brasil está dentro das probabilidade de fatalidades.

Viomundo -- Em 2009, também houve problema, lembra-se?
Miguel Nicolelis -- No ano passado foi um furto, foi um crime. O MEC não pode ser condenado por causa de um assalto, que é uma contingência e nada tem a ver com a metodologia do teste.
Só que, infelizmente, gerou problemas operacionais para algumas universidades, que não consideraram a nota do Enem nos seus vestibulares. Isso não quer dizer que elas não entendam ou não aceitam o teste. As provas do Enem são muito mais democráticas, mais racionais e mais bem-feitas do que os vestibulares de qualquer universidade brasileira.
Eu fiz a Fuvest. Naquela época, era um lixo na época em que eu fiz. Não media nada. E, ainda assim, a gente teve de se sujeitar àquilo, para entrar na faculdade a qualquer custo.

Viomundo -- Fez cursinho?
Miguel Nicolelis -- Não. Eu tive o privilégio de estudar numa escola privada boa. Mas muitas pessoas que não tinham educação de alto nível eram obrigadas a recorrer ao cursinho para competir em condições de igualdade.
Mas o cursinho não melhora o aprendizado de ninguém. Cursinho é uma técnica de aprender a maximizar a feitura do exame. É quase um efeito colateral do sistema educacional absurdo que até recentemente tínhamos no Brasil. É um arremedo. É um aborto do sistema educacional que não funciona.

Viomundo -- Qual a sua avaliação do Enem?
Miguel Nicolelis -- É um avanço tremendo. Você retira o estresse do vestibular. Na minha época, e isso acontece muito ainda hoje, o jovem passava os três anos esperando aquele "monstro". De tal sorte, o vestibular transformava o colegial numa câmara de tortura. Uma pressão insuportável. Um inferno tanto para os meninos e meninas quanto para as famílias. Além disso, um sistema humilhante, porque as pessoas que podiam frequentar um colégio privado de alto nível sofriam com o complexo de não poder competir em pé de igualdade. Por isso os cursinhos floresceram e fizeram a riqueza de tanta gente, que agora está metendo o pau no Enem. Evidentemente vários interesses estão sendo contrariados devido ao êxito do Enem.

Viomundo -- Tem muita gente pixando, mesmo.
Miguel Nicolelis -- Todo esse pessoal que pixa acha que sabe do que está falando. Só que não sabe de nada. Exame educacional não é jogo de futebol. Tem metodologia, dados, história. E olha que eu adoro futebol. Sempre que estou no Brasil, vou ao estádio para assistir aos jogos do Palmeiras [Ninguém é perfeito (rs)!] O Brasil fez muito bem em entrar no Enem. É o único jeito de acabar com esse escárnio, com essa ferida que é o vestibular.

Viomundo — Nos EUA, não há vestibular para a universidade. O senhor acha que o Brasil seguirá essa tendência?
Miguel Nicolelis -- Acho que sim. O importante é o seguinte. O Brasil está tentando iniciar esse processo. Quando você inicia um processo dessa magnitude, com milhões fazendo exame, é normal ter problemas operacionais de percurso, problemas operacionais. Isso faz parte do processo.
Nós estamos caminhando para o Enem ser a moeda de troca da inclusão educacional. As crianças vão aprender que não é porque elas fazem cursinho famoso da Avenida Paulista que elas vão ter mais chance de entrar na universidade. Elas vão entrar na universidade pelo que elas acumularam de conhecimento ao longo da vida acadêmica delas. Elas vão poder demonstrar esse conhecimento sem estresse, sem medo, sem complexo de inferioridade. De uma maneira democrática.E, num futuro próximo, tanto as crianças de escolas privadas quanto as de escolas públicas vão começar a entrar nesse jogo em pé de igualdade. Aí, sim vai virar jogo de futebol.
Futebol é uma das poucas coisas no Brasil em que o mérito é implacável. Joga quem sabe jogar. Perna de pau não joga. Não tem espaço. O talento se impõe instantaneamente.
Educação tem de ser a mesma coisa. O talento e a capacidade têm de aflorar naturalmente e todas as pessoas têm de ter a chance de sentar na prova com as mesmas possibilidades.

http://www.viomundo.com.br/entrevistas/nicolelis-so-no-brasil-educacao-e-discutida-por-comentarista-esportivo.html

Rudá Ricci: Enem sofre ofensiva de interesses ligados à indústria do vestibular

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sofre uma ofensiva de interesses, segundo o sociólogo e consultor na área de educação Rudá Ricci. Ele enumera grupos e setores do que chama de “indústria do vestibular”, de cursos preparatórios a docentes encarregados de formular as provas. Para ele, há uma disputa de política educacional em curso, e é necessário preservar uma avaliação de caráter nacional.

“Uma prova nacional permite que o país trace objetivos de política educacional”, esclarece. Um vestibular nacional do ponto de vista da aplicação e do conteúdo promove um impacto no ensino médio, de modo a reverter problemas dessa faixa da educação.
Para ele, os vestibulares descentralizados, feitos por cada universidade, provocam danos à educação, já que o ensino médio e mesmo o fundamental direcionam-se às provas, e não à formação em sentido mais amplo. “O ensino médio é o maior problema da educação no Brasil, é o primeiro da lista, com mais evasão, em uma profunda falência”, sustenta.
“O Enem faz questões interdisciplinares, é absolutamente técnico, é super sofisticado”, elogia. Os méritos estariam em privilegiar o raciocínio à memorização de conteúdos. Isso permitiria que o ensino aplicado nas escolas fosse além do preparo para enfrentar provas de uma ou outra universidade.
O Enem traz uma “profunda revolução”, na visão de Rudá, “ao combater profundamente a concepção pedagógica e política de vestibulares por universidade”. Ao se aproximar dessa concepção nacional – fato que aconteceu apenas nos últimos anos –, interesses de grupos educacionais foram colocados em xeque, o que desperta ações contrárias.
Entre os setores interessados economicamente, segundo ele, estão as próprias universidades, que arrecadam em matrículas, os professores que produzem questões fechadas e abertas, e os cursos preparatórios para o vestibular.
Controle social
Ricci critica a postura do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, e da ex-secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O sociólogo taxa os comentários feitos pelos especialistas ligados ao PSDB como “oportunismo”. Isso porque, segundo ele, o uso da prova como seleção e seu caráter nacional, hoje criticados pelos tucanos, foram objetivos perseguidos durante a gestão de Renato na pasta, de 1995 a 2002.
O que ele considera como mudança de postura é resultado da disputa política, que faz com que os estudantes passem a rejeitar o exame. “Os jovens não querem mais essa bagunça. E têm razão”, pontua.
“Existe uma movimentação para politizar esse tema; vamos ter o avanço de uma oposição organizada, que junta as forças políticas que perderam a eleição nacional com escolas particulares, cursinhos que têm muito interesse na manutenção do sistema de vestibular”, avalia.
O sociólogo defende o modelo de exame nacional, mas acredita que a fórmula possa ser aprimorada, seja com mais dias de provas, seja com provas aplicadas a cada ano do ensino médio. Ele aponta ainda que houve um desvirtuamento da proposta interdisciplinar e sofisticada, empregada originalmente, em função da necessidade de expandir a prova. Em 2010, foram 4,6 milhões de inscritos.
Ele acredita que a postura de críticas deve-se às diferenças partidárias. “Estão politizando o Enem, politizando o ingresso na universidade e o conteúdo da prova”, lamenta. “Seria interessante ter um órgão que execute o exame sob controle social, não de governo, nem de empresas”, sugere.
“A solução é nós discutirmos nacionalmente esse gerenciamento em um modelo como o americano para o vestibular nacional”, defende. O SAT, usado como método de seleção nos Estados Unidos, é aplicado por agentes privados de modo controlado pelo departamento de educação federal. Além de poder ser aplicado em dias diferentes, cartas de recomendação de professores e outros instrumentos também são considerados na seleção por parte de universidades.

De: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/ruda-ricci-enem-sofre-ofensiva-de-interesses-ligados-a-industria-do-vestibular.html

Fonte: http://boletimdehistoria-ricardo.blogspot.com/ Número 253


domingo, 14 de novembro de 2010

Resenha, 1822

1822, Laurentino Gomes. Ed. Nova Fronteira.
O livro 1822 desconsidera investigações e questionamentos que há mais de 30 anos vêm sendo desenvolvidos e divulgados por centenas de pesquisadores brasileiros e portugueses sobre o tema da Independência, dos quais resultaram não só profunda ampliação dos conhecimentos sobre a época como a superação de interpretações correntes.
Dedicado a "professores de História no seu trabalho anônimo de explicar as raízes de um país sem memória", o livro banaliza Saiba a versão mais conservadora e simplificada das complexas circunstâncias nas quais foram delineadas a separação de Portugal e a fundação do Império do Brasil. O fio condutor da narrativa é, aparentemente, a vida de D. Pedro. Entretanto, para fazer uma "reportagem" e contar como o Brasil conseguiu "manter a integridade de seu território e se firmar como nação independente", o autor se fundamentou em duas premissas: para ele, a
Independência foi produto de "sorte, acaso, improvisação", pois a desorganização interna era tamanha que só um "milagre" faria "dar certo" um país "que tinha tudo para dar errado"; desta forma, as decisões cruciais só poderiam ser tomadas por estrangeiros e portugueses -uma princesa austríaca, um militar mercenário inglês, D. Pedro, os deputados das Cortes em Lisboa e um "homem sábio", José Bonifácio, inspirado pelos padrões europeus. Como o próprio autor afirma, o livro é um "mosaico" de personagens e episódios, mas não está livre de equívocos: na cronologia, por exemplo, 12 de outubro de 1823 aparece como data do fechamento da Assembleia Constituinte pelo imperador, quando o correto é I2 de novembro.
Os capítulos não formam propositadamente uma sequência, havendo idas e vindas no tempo e no espaço, e, além disso, a composição do texto pressupõe que a História seja um grande depósito de dados, que o observador arrebanha como quer, e com eles monta um tabuleiro manipulando fragmentos e dando-Ihes a fisionomia que considerar mais adequada ou palatável. A "técnica jornalística" que o autor diz adotar, contudo, não o inocenta do partido que tomou. O enredo apresentado - desmentido por obras que ele mesmo cita e pela literatura atualmente disponível -sugere que o voluntarismo de indivíduos comanda a História, que a sociedade brasileira, tanto no passado quanto no presente, é incapaz de se autogovernar, e que ainda estão por nascer o povo e a nação brasileiros. Edições como esta disparam, sobretudo, um alerta: não educam, desinformam, são conformistas e encontram espaço nos
meios de comunicação.
CECÍLIA HELENA DE SALLES OLIVEIRA É DIRETORA DO MUSEU PAULISTA EPROFESSORA DA USP.
Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 6, n° 62, novembro de 2010. p. 92.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

UMA PEQUENA REFLEXÃO SOBRE A SALA DE AULA

“Toda vez que um segredo é descoberto, refere-se a um outro segredo num movimento progressivo rumo a um segredo final. Entretanto, não pode haver um segredo final.”
(Umberto Eco)

A sala de aula, espaço por todos chamado de minha, é onde nós nos realizamos.
Em um belo dia nela pela primeira vez entramos. Deslumbrados ficamos. O espaço tão sonhado que nos apontava a um mundo novo, a ser conquistado, a ser desnudado.
Avançamos por esse espaço com as lições que ali nos foram ensinadas. As pedras postas no caminho da vida foram, aos poucos, sendo retiradas com as ferramentas que nos deram dentro da sala de aula.
Outras ferramentas buscamos fora da sala de aula.
Admirávamos aquela pessoa meiga que de tudo sabia, a qual aprendemos a chamar de Tia mesmo sem sermos parentes. Depois de Professora pelas lições passadas. Olhávamos a pessoa meiga com o temor de ser castigado, ou de levarmos alguma “encomenda” direcionada a nossa mãe. Geralmente um pequeno pedaço de papel contendo o que havíamos feito naquela manhã ou tarde. Não sabíamos se era pior carregar o bilhete, escondê-lo, ou cumprir com a obrigação de entregá-lo a Mamãe arcando com as conseqüências do escrito.
Passavam os anos e nós passávamos de ano. Que felicidade. Estávamos na série seguinte. Sentíamos-nos adultos. Homens feitos.
Passavam as férias, viam as aulas.
Lá estávamos nós de volta ao nosso espaço: a sala de aula. Diferente este ano! Não havia em sua parede aqueles cartazes feitos por nós no ano que havia findo. Pelo contrário, eram paredes secas. Não tínhamos mais a professora meiga e o medo do castigo, ou do bilhete. Havia um monte de medos sem bilhetes: eram vários professores e professoras. O medo se multiplicava na proporção do aumento da responsabilidade. A cobrança em casa crescia.
Os grupos de amigos continuavam os mesmos, uma perda aqui ou ali sempre recuperada com uma nova contratação para recompor o elenco das brincadeiras. Havia aumentado o número de aulas junto com a quantidade de disciplinas. Haja tempo para estudar e estudar.
Surgiam os primeiros suspiros. Estes vinham acompanhados de grandes sonhos. Eram as fantasias do namoro nascendo em cada um. Logo se suspirava por uma, no ano seguinte por outra, porque a do ano anterior não tinha visto o suspiro, ou o tinha, simplesmente, ignorado.
Ano após ano aquele espaço chamado de sala de aula, agora minha classe, ia se tornando mais sério. Aumentava a idade, junto aumentava a cobrança paterna. Não mais existiam bilhetes para casa, íamos para casa com uma carta......de suspensão. Era na nossa mente a evolução: tínhamos saído do bilhete reclamatório à carta de suspensão. Alguns “evoluíram” demais: haviam recebido a Carta de Expulsão. Por um tempo cessávamos com as brincadeiras. Era o medo de evoluir mais um pouco.
Anos depois, sem que ninguém notasse, havíamos chegado ao 3º ano, do antigo científico, depois 3º ano do Ensino Médio. Deixemos as nomenclaturas de lado. Era a euforia de fazer o vestibular misturado a euforia de ter conquistado aquele suspiro de anos anteriores. O suspiro tinha virado namoro. Mas tínhamos de estudar para por à prova que a Tia, a Professora, os Professores e Professoras haviam feito o dever de classe, nos faltava fazer o de casa. Ou seja, eles e elas tinham nos ensinado. Passar no vestibular era dever nosso. Quem não passou por isso?
Minutos preciosos de televisão, de jogar bola, de namoro, foram trocados por horas a mais a frente dos livros, das apostilas e, agora com supervisão paternal.
Chegara o dia do exame vestibular. Antecedido que foi por um de angústia e uma noite de insônia. Saímos de casa para tentar um novo sonho: entrar em outra sala de aula. A sala de aula da Universidade. Cedo fomos acordados por uma mãe tensa, que na sua meiguice havia preparado algo leve para comermos antes de sair. A roupa passada nos esperava. Não podíamos sair tarde visto não poder chegar atrasado como nos dias de aula. Deixávamos uma família rezando e nos fazendo ter uma responsabilidade ainda maior. A única possível. Passar no vestibular. Claro que seria uma conquista nossa, mas faria todos da casa mais felizes.
Tensos escutamos pelo já antigo rádio, os nomes sendo lidos um a um, em ordem alfabética e por curso, por uma voz que não sabíamos de quem era. Nem chegava o curso para o qual tínhamos feito, nem chegava o nosso nome. Finalmente o locutor (palavra em desuso) falava em nosso curso. Os primeiros nomes aprovados, felicidades para muitos, tristeza para milhares. Festa em nossa casa. Festa na casa dos amigos. Mas havia alguém do grupo a não passar. Era um elo da corrente que ficava na estrada do tempo, que é a estrada da vida.
Choramos junto o ingresso na Universidade. Somente depois percebemos que todo aquele choro de felicidade, aquelas lágrimas de alegria, era a forma que a sala de aula a nos unir durante tanto tempo seria a mesma a nos separar. Havíamos ingressado na Universidade em cursos diferentes. Salas de aula diferentes. Olhamos-nos de repente: estávamos sós no meio de tanta gente. Esse era o sentimento compartilhado pelos velhos amigos de tantas salas de aula. No início do curso ainda conversávamos bastante. Com o tempo a nova sala de aula foi criando novos amigos, enquanto os velhos amigos tinham cada vez menos tempo para conversar. Eram trabalhos, provas, seminários. Eram novos grupos de amigos. A sala de aula do nosso futuro nos obrigava a conversar menos com nossos amigos de sempre.
Como é paradoxal essa sala de aula.
Era chegado o momento de glória da família. Havíamos terminado o curso universitário. Chegara o dia da aula da saudade, da colação de grau, do baile de formatura. Interessante, durante a aula da saudade se falou em saudade dos amigos feitos na Universidade. Não ouvimos falar dos outros amigos feitos na alfabetização.
Havíamos feito cursos na área de educação, mas basicamente licenciaturas.
Agora era chegada a hora de trabalhar. Trabalhar onde mesmo? Numa sala de aula.
Entrávamos em nossa primeira sala de aula como professores. Difícil dizer qual medo foi maior: o frio na barriga do profissional formado ou do menino que chorou para não ficar na sala de aula quando levado pela mãe.
Dilema nunca resolvido.
Mas estávamos realizados. Éramos profissionais. Éramos professores e agora tínhamos a nossa própria sala de aula.
Havíamos evoluído. De ocupantes de uma sala a proprietários de uma só para minha pessoa (e haja redundância para dizer que temos uma sala de aula).
A sala de aula é o espaço do homem. Do homem que se realizou. Pois todos os profissionais percorreram este caminho nestas linhas ditas. E mesmo aqueles que dizem não trabalhar em uma sala de aula – agradecendo a Deus, ainda por cima -, não sabem que vivem o tempo todo na maior sala de aula da alma humana: a vida.
Parabéns por sua existência sala de aula, obrigado por nos ensinar a viver.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SEM CONCURSO FICA DIFÍCIL!!

SEM CONCURSO FICA DIFÍCIL!!
O cara termina o segundo grau e não tem vontade de fazer uma faculdade.
O pai, meio mão de ferro, dá um apertão:
- Ahh, não quer estudar? Bem, perfeito!
Vadio dentro de casa eu não mantenho. Então vai trabalhar!...
O velho, que tem muitos amigos, fala com um deles, que fala com outro, até que ele consegue uma audiência com um político que foi seu colega lá na época de muito tempo atrás:
- Rodriguez, meu velho amigo!...
Tu te lembra do meu filho? Pois é! Terminou o segundo grau e anda meio à toa, não quer estudar...
Será que tu não consegue nada pro rapaz não ficar em casa vagabundeando?
Aos 3 dias, Rodriguez liga:
- Zé, já tenho! Assessor na Comissão de Saúde no Congresso, R$ 9.000,00 por mês, prá começar.
- Tu tá louco!!!!! O guri recém terminou o colégio, não vai querer estudar mais, consegue algo mais abaixo...
Dois dias depois:
- Zé! Secretário de um deputado, salário modesto, R$ 5.000,00, tá bom assim?
- Nãooooo, Rodriguez! Algo com um salário menor, eu quero que o guri tenha vontade de estudar depois....
Consegue outra coisa.
- Olha Zé, a única coisa que eu posso conseguir é um carguinho de ajudante de arquivo, alguma coisa de informática, mas aí o salário é uma merreca, R$ 2.800,00 por mês e nada mais....
- Rodriguez, isso não, por favor, alguma coisa de 500, 600, prá começar.
- Isso é impossível, Zé!!!
- Mas, por que???
- PORQUE ESSES SÃO POR CONCURSO, PARA PROFESSOR, PRECISA TÍTULO SUPERIOR, MESTRADO ETC.... É DIFÍCIL...

Fonte: http://www.raquelrfc.com/2010/11/sem-concurso-fica-dificil.html