Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

domingo, 27 de junho de 2010

Manual do colador.


Essa dica vai para aqueles que disseram que eu nunca ajudei a ninguém.
Obs. Só para lembrar, o “amigo”, que me passou essa ideia, não conseguiu passar de ano.
Um grande abraço.
Alexandre.

“Todo prisioneiro tem o direito à fuga como todo aluno tem o direito à cola”

Manual do Colador
Forças ocultas nos levam a cometer atos que não queremos... mas depois que fazemos uma vez não queremos parar! Pra que mergulhar profundamente no maravilhoso mundo do conhecimento, passar horas e horas sentados em suas confortáveis cadeiras discutindo ideais filosóficos e aprendendo a magia das matérias escolares se podemos curtir a vida?
Mas tem que fazer direito! este manual vai evitar os desconfortos de uma prova mal colada. Vale a pena frisar que para tudo isso também se faz necessário muito sangue frio e uma enorme cara-de-pau para ser um bom colador.
Boa sorte (vai precisar...)
Glossário
· COLANTE: Aquele que cola;
· COLADO: Vítima do colante, na maioria das vezes ele também ajuda na hora da cola;
· OTÁRIO: Fiscal ou professor que nem percebeu que você estava colando;
· BURRO: É você quando o OTÁRIO te pega colando;
· #*³Í-Y J ¼ m ó : Algumas palavras que você vai dizer quando for pego;
· ENCRENCA: O significado você vai saber depois que for pego;
· FUD....: Jeito que você vai ficar quando seus pais souberem da ENCRENCA em que você se meteu;
TIPOS MAIS SIMPLES DE COLA
· MÉTODO OLHÃO: Na hora da prova, como se você fosse a pessoa mais inocente do mundo, meio sem querer, deixe seu olho escorregar "inocentemente" por sobre a cola do vizinho, é importante lembrar que para isso você precisa ter uma boa memória para decorar pelo menos metade da prova.
· MÉTODO BORRACHA: Esse é o método mais popular e talvez o
mais usado. Consiste em; Usa-se uma borracha Faber-Castell branca com capinha verde, nela copia-se tudo o que der da prova e então passa-se para o COLANTE;
- BORRACHA MÃO-EM-MÃO, OLHO-EM-OLHO; A borracha vai passando de mão-em-mão até o colante destinatário, e nesse percurso também passa de olho-em-olho por todos o que nela
pegaram;
- BORRACHA VOADORA: A borracha sai "voando" de um canto a outra pela sala.
- BORRACHA CORREDORA: A borracha "corre" por entre as carteiras até chegar ao destinatário.
· MÉTODO PAPEL: Semelhante o da borracha, porém com um papelinho.
· MÉTODO DO RESUMO-AMIGO: O colante deve fazer um resumo da matéria correspondente e "esquecê-lo" debaixo da carteira;
· MÉTODO NO CORPO: Copia-se o que puder (e o que não puder também) da matéria nas mãos, antebraços, braços, cotovelos, ombros, coxas, panturrilhas, pés, virilha , nádegas, etc. e faz-se algumas consultas na hora da prova. (chamado também de MÉTODO DO DESESPERADO. Porém não o aconselhamos a usá-lo, pois se você errar na hora de escrever, pode acabar colocando a caneta aonde não se deve...)
TIPOS MAIS ARRISCADOS DE COLA
· SINALIZADOR: COLANTE e COLADO combinam em inventar um alfabeto (semelhando o dos surdos), para discutirem questões vitais na hora da prova sem que não atrapalhe a concentrações de ninguém, é claro. Muito usado com longas distâncias.
· PÉZÃO: Semelhante ao SINALIZADOR, porém utiliza-se os pés para sinalizar e com distâncias mais generosas.
COMO COLAR
1. Arranje um COLADO para você;
1. Reze para que um OTÁRIO bem OTÁRIO aplique sua prova;
1. Escolha um método que você mais se identifique;
1. Não sente do lado de nenhuma mulher gostosa, há risco de
desconcentração na hora mais vital da cola;
1. Não assobie;
1. Não encare muito o OTÁRIO;
1. Relaxe; Mas não tanto;
1. Não coce o saco, essa é uma atitude muito suspeita;
1. Certifique-se que o OTÁRIO não esteja prestando atenção;
1. Ponha o plano em prática;
1. Cole, cole e cole até não poder mais. Depois cole de novo só para ter certeza;
1. Tente entregar a prova antes do COLADO, assim vai parecer que ele colou de você;
1. Depois disso, devido a seu grande esforço intelectual, faça pipi e vá para um boteco beber uma gelada pois ninguém é de ferro;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esperamos que você tenha tirado um bom proveito desse manual, e treine sempre, pois um bom colador é um bom colador.
O BIOTIPO DO BOM COLADOR
Após muitos estudos e pesquisas, a PUM-BVM (Pontifícia Universidade Manjada da Boa Vida Mansa) conseguiu traçar o perfil do Bom Colador Brasileiro veja se você se encaixa nele:
(Recomendamos que você leia o Manual do Bom Colador antes de prosseguir, só pra clarear suas idéias).
· Uma pessoa que parece normal, porém exibe uma incrível capacidade mental para memorizar centenas de informações na hora da cola.
· Olhos de águia, com os quais é possível enxergar a distâncias enormes as mais pequenas letras de todos os tipos de NERDS;
· Dedos calejados de tanto preencher os cartões de respostas depois das provas;
· Sempre usa camisas de mangas comprimidas, uma grande aliada na hora da prova;
· Olhar sempre atento para colados vacilões;
· Super Audição para evitar fiscais e professores indesejados por perto;
· Capacidades extra sensoriais, principalmente quando se comunica com outro bom colador;
Equipamentos de um bom colador:
· Caneta Bic, ideal para preencher os cartões de respostas;
· Borracha Faber-Castell daquelas com a capinha verdinha para facilitar;
· Agenda eletrônica com, no mínimo, 32 Kb de memória. (toda ocupada pela cola, é claro);
· Bip, pequeno e discreto;
· Celular com vibracall e fone de ouvido;
· Sempre anda com outros Bom coladores
Dicas de um Bom Colador :
(Caso você já tenha os esquemas já prontos para prova) :
· Você não vai precisar se preocupar, afinal já está tudo arranjado! mas aconselhamos:
· Curta muito antes da prova, pois depois que você entrar na faculdade você vai ralar!
· Recomendamos que você vá para algum pagode ou show de música baiana, arranje uma mulher muito boa e vá curtir o resto da noite com ela;
· Acorde bem tarde, de preferência em cima da hora da prova, afinal você não vai se esforçar tanto na hora da prova,
· Bata "aquele almoço" com muita gordura e coca-cola que é pra facilitar a digestão
· Boa prova!
(Caso você não tenha os esquemas para a prova e nem estudou pra ela) :
· Nesse caso você tem duas opções:
- Primeira: Você é um grande vagabundo que não está nem aí pra nada. Então você não tem que se preocupar com nada, de preferência nem vá fazer a prova que isso só vai encher o seu saco...
- Segunda: Você está numa situação desesperado, você é um "sem futuro", irresponsável que pensa que vai se dar bem sem estudar ou sem colar, então:
· Pode se desesperar que é certo que você não vai passar.
. Vá a Igreja, templo, sinagoga, mesquita, terreiro de macumba, tenda mais próxima e reze muito!!

Aviso importante: Embora o aluno tenha direito à cola é dever do mesmo entregar a cola mais a prova se for surpreendido no ato da colagem pelo professor. Cabendo ao professor se lhe aplicará um "Zero" ou a penas o confisco da prova.
Dica: Prof. Emiterio
O Ministério da Educação adverte:
Não nos responsabilizamos por alunos que não saibam colar e são surpreendidos na hora do exame!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Há um neandertal dentro de nós

Nossos primos mais próximos não se extinguiram por completo. Humanos e neandertais acasalaram. Os europeus e asiáticos são seus descendentes.
Fonte: Revista Época

A imagem acima foi extarída do blog: Historiativa - Tempos Modernos da professora Valéria Fernandes.

sábado, 19 de junho de 2010

Idade Média


As Espadas da Fé
Quando os nobres começam a se armar, a Igreja busca uma aproximação entre estas duas partes tão importantes no status quo medieval. Começa, então, a história de uma ligação perigosa que vai trazer a legitimação do poder pela força militar.
Por James Andrade


"[...] A Casa de Deus, que acreditam uma, aqui embaixo está, pois dividida em três, sendo, portanto, tripla: uns oram (orant), outros combatem (pugnant), outros, enfim, trabalham (laborant). Estas três partes que coexistem não suportam ser separadas [...]" (Adalberón, bispo de Laon).
Foi dessa maneira, estabelecida nas famigeradas Três Ordens, que o pensamento cristão concebeu, no início do século XI, a sociedade medieval, na qual cada um ocupava o seu devido lugar e executava aquilo que lhe foi previamente designado por Deus, deixando implícito que a aceitação da condição social de cada um era um preceito religioso imprescindível para a manutenção da paz e da harmonia, sendo essas as condições ardorosamente desejadas e, se preciso, ferozmente defendidas. Um mundo pacífico e ordeiro, capaz de agradar a Deus em sua mansidão sempre foi o ideal buscado.
Não convém, entretanto, pensarmos que a sociedade medieval fosse, devido a esse preceito ordenador, uma sociedade estática, em que não houvesse mobilidade social. Muito pelo contrário, havia sim e muita, sendo os orant o principal elo desta mobilidade, uma vez que o clero era composto tanto daqueles que vinham das famílias mais abastadas, geralmente os filhos bastardos e aqueles muito distantes das linhas sucessórias, quanto dos filhos daqueles que se dedicavam ao comércio e outros serviços, os laborant.Após o século X, pressionada por fatores muitos, de que se destaca o crescimento populacional, que demandará uma busca por novas áreas cultiváveis para atender a demanda de alimentos, esta mobilidade será ainda mais sentida. As Três Ordens não foi, propriamente, uma novidade, uma criação específica do período, a busca por uma hierarquização da sociedade, uma estruturação clara e precisa, capaz de explicar convincentemente a realidade, com todas as suas mazelas e diferenças gritantes com base na Bíblia Sagrada. Portanto, em conformidade com a Vontade Divina, desde sempre esteve presente no imaginário cristão, tanto que já no período Carolíngio (843-987) era possível perceber certa divisão das funções sociais, em que se destacavam os monges, os clérigos e os leigos.Notar que neste início de ordenação ideal da sociedade o clero, intermediário da Vontade Divina, respondia por dois terços das obrigações estruturais, denotando a sua importância. De encontro com as pretensões dos representantes da Igreja, a realidade, porém se interpôs.
Essa estreita relação de mútuos interesses, sempre conturbada e violenta, será a dinâmica predominante nas relações de poder do período medieval
A igreja criada por Pedro, representada pela figura do papa, que no de correr do período torna-se uma instituição, não era capaz de, por si só, garantir sua defesa. A todo o momento, acossada por inimigos mais poderosos, a Igreja foi obrigada a buscar alianças junto àqueles que, detentores do poder das armas, eram capazes de garantir sua segurança. Grosso modo, estes senhores das armas são os nobres.A nobreza se origina e se justifica pelo uso das armas e da violência. Isto posto, é lícito dizer que noções como honra, coragem e audácia, em muitos momentos, calaram mais fundo do que aquelas relacionadas à descendência para a caracterização de nobreza, o que sugere a possibilidade de mobilidade social por outros elementos que não só aqueles de origem sanguínea; nem todo nobre nascia nobre, era possível tornar-se nobre. Não poucos mercenários, aqueles que, de origens muitas, viviam do ofício de soldado oferecendo seus serviços a quem pudesse pagar, acabavam por obter títulos de nobreza. Este fato é melhor observado quando da formação da nobreza carolíngia, mas igualmente se repetiu por todo o período medievo.
Nobreza Armada
A Igreja, para garantir sua existência, buscou se aproximar desta nobreza armada e acercada de mercenários, sendo que o inverso também foi válido, a nobreza, buscando sua autoafirmação também se aproximou do clero. A Igreja necessitavada força militar da nobreza e esta, por sua vez, carecia de legitimar sua posição de poder, legitimação esta, reticente no início, viria a ser dada pelo reconhecimento, por parte da Igreja, da origem divina do direito da nobreza ao exercício do poder."[...] Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes [...]" (Jean Bodin).
A conversão do franco Clóvis (466-511) em 496, feita por Rémy (440-533) - São Remígio - bispo de Reims, e a coroação de Carlos Magno (747-814) como imperador dos romanos em 25 de dezembro de 800, pelo papa Leão III (795- 816) - São Leão III - são exemplos claros desta aproximação de via dupla.
Essa estreita relação de mútuos interesses, sempre conturbada e violenta, será a dinâmica predominante nas relações de poder do período medieval. De um lado, a busca por um mundo pacato e ordeiro, reflexo de uma Vontade amorosa, e de outro, a necessidade mundana da defesa da própria existência, levou o clero medievo a se debruçar sobre a questão da violência, e de sua expressão máxima, a guerra. Desde os primórdios do cristianismo, com severo agravamento nos séculos que se seguiram à conversão do imperador romano Constantino I (c 280-337) ao cristianismo, foi colocado para o mesmo manso exaltado nas palavras de Jesus: "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra" (Mateus 5:5) - tanto a difícil tarefa de seguir fielmente os preceitos ditados pelo Cristo para a salvação da alma, dentre eles a não violência, quanto o dever de defender sua Fé (em um sentido mais prático, a instituição chamada Igreja Cristã Medieval) dos seus detratores.
Em meio a esta situação, sob o ponto de vista contemporâneo dicotômico, a Igreja se debaterá em busca de uma solução que garanta ser tudo aquilo a que o mundo está sujeito, uma expressão da Vontade Divina.
Na elaboração da sua "sociedade perfeita", a Igreja não poderá ignorar a existência dos combatentes, nem daquilo que eles representam, que é o poder das armas, restará então buscar formas de integrá-la e dar a ela uma função, definir um parâmetro de ação na estrutura social em que os pugnant pudessem exercer sua violência, sem que com isso arriscassem suas almas imortais.Ao reconhecer a função de combatente, portanto de homem de armas, indiretamente se estabeleceu que alguns homens poderiam, legitimamente, portar armas, enquanto que outros deveriam andar desarmados.
Guerra Justa
"[...] Justas são as guerras que vingam injustiças, quando aqueles contra quem a guerra deva ser feita deixou de punir os erros dos seus ou deixou de restituir aquilo que foi tomado em meio a estas injustiças [...]"
(Santo Agostinho).
Quando o bispo de Hipona (região da atual Argélia), Santo Agostinho (354-430), discorreu sobre a "Guerra Justa"; definindo seu antônimo, a "Guerra Injusta"; estabeleceu o preceito básico que viria a figurar no direito canônico: "Uma guerra é justa quando travada com intenções honestas, comandada por uma autoridade legitimada, com objetivos de promover a defesa ou a retomada da posse de algo usurpado ilicitamente". A guerra servirá então para corrigir injustiças, sendo que quaisquer outros motivos serão considerados indignos.Os "Ideais de Cavalaria" (devoção, honra e defesa dos oprimidos), observados em especial nas obras literárias a partir do séc. X, têm suas raízes nessa noção de violência justificada.A elaboração de um conceito no qual a guerra é justificada mostra o esforço da Igreja em integrar um elemento real, a violência, dentro de parâmetros controlados, de modo a não comprometer a estrutura perfeita que era a sociedade cristã por ela idealizada, em última instância, harmoniosa. A guerra era inevitável, portanto, que ela se desse sob a égide da Igreja, que fosse feita em seu nome, em defesa dos seus interesses; que, claro, também incluíam os interesses papais. Deste modo, a chamada Legio Christiana - Legião de Cristo - assumia cada vez mais uma conotação militar, engendrava-se a noção de "Soldado de Cristo".Este processo foi feito não sem encontrar resistência, no seio do clero sempre existiram aqueles contrários à ideia da violência, para quem a guerra não tinha nenhuma justificativa, merecedora somente de reprovação.
Grosso modo, durante todo o período denominado Idade Média, sendo mais sentido a partir do séc. X, a figura do combatente medievo - um cavaleiro por excelência devido à importância que a cavalaria assumiu desde as batalhas travadas na época carolíngia - foi hostilizada pelo clero, sempre vistos como sendo rudes e indisciplinados, mas úteis para a defesa dos seus interesses.Eram comuns os ajuntamentos de combatentes, geralmente a soldo, para a proteção de bispados e conventos, sempre lutando sob a bandeira de algum santo padroeiro, eram, porém, combatentes e não clérigos, ainda estavam integrados na estrutura social das Três Ordens, executando sua função de pugnant.Devido à sua natureza hostil e por serem indispensáveis para a proteção do clero e de suas posses ("propriedades de Cristo"), os combatentes sempre figuraram como alvos da conversão e de tentativas de submetê-los, por meio de juramentos feitos sob a Santa Cruz, a regras de conduta capazes de amenizar, ou pelo menos direcionar, seus hábitos belicosos. Discutidas em diversos concílios, o evoluir dessas regras, sempre impulsionadas pela necessidade de se estabelecer um controle efetivo da violência disseminada pelos combatentes, darão origem, no raiar do séc. XI, no Concílio de Narbonne (1054), de um conjunto de normas conhecido como "Paz de Deus".
Ordens militares religiosas
Os grupos mantidos pela igreja originaram-se da necessidade de proteger os peregrinos cristãos que se moviam por algumas regiões e eram alvos constantes de ataques de ladrões e assaltantes. A Terra Santa, em especial, envolveu muitos conflitos de peregrinos que eram incomodados por muçulmanos. A tabela abaixo traz um resumo das principais ordens religiosas criadas e mantidas com o paio da Igreja:


A Paz de Deus
"Que nenhum cristão mate outro cristão. Aquele que mata um cristão saiba que verte o sangue do próprio Cristo"
(Concílio de Narbonne).
O Ocidente Europeu no período medievo foi um mundo onde o poder estava dividido e sempre instável, sendo exercido de forma independente pelos chamados senhores feudais, geralmente possuidores de grandes extensões de terras, cujas relações entre si eram parcialmente regidas por relações feudo-vassálicas, em que se destacavam as figuras do vassalo (aquele que prestava homenagem) e do suserano (aquele que recebia a homenagem) e que envolvia a cessão do direito, por parte do suserano, de uma atividade de geração de ganho para o vassalo em troca de alianças de cunho estratégico-militar, que visavam justamente uma consolidação de poder, sempre ameaça do por outros senhores.
O objeto de onde provinha esta geração de ganho era chamado "feudo". Erroneamente identificado como sendo somente uma porção de terra, na verdade, o feudo podia assumir vários aspectos, podendo ser, por exemplo, uma ponte ou uma estrada onde se cobrava pedágio.
Em fins do séc. IX, é possível constatar um aumento significativo desses senhores, que se observa também nos séculos seguintes devido ao grande número de castelos construídos nesta época (entre os séculos IX e XII), o que provocou uma fragmentação ainda maior de um poder já tão fragilizado. Os castelões (senhores dos castelos) se valiam dos serviços prestados pelos combatentes tanto para defenderem suas posses quanto para garantirem a arrecadação de seus servos. Uma atividade de prestígio, uma vez que, como forma de pagamento, esses combatentes, em alguns casos, vieram a ganhar seus próprios feudos.Nesse cenário, a figura dos combatentes, muito associada à atividade de mercenário, tornou- se ainda mais presente no cotidiano, uma presença sentida de forma cada vez mais negativa, tanto que, em pouco tempo, muitos clérigos passaram a culpá-los por tudo o que acontecia de errado, dizendo que as atividades que eles desempenhavam, de achaque, intimidação, espancamentos, roubos e assassinatos, desagradavam a Deus e do desagrado provinham as punições.
A noção de "Guerra Justa", por si só, não foi capaz de enquadrar os pugnant na ordem "natural" das coisas, era preciso mais, e os bispos, conhecendo mais de perto o resultado trágico dessas agressões, iniciam um movimento para proteger da violência os indefesos, dentre estes estavam os próprios clérigos.
Em 1054, no Concílio de Narbonne, as muitas regras de conduta foram listadas em forma de proibições da atividade de combate em dias específicos, ficavam assim proibidas as agressões às sextas-feiras (dia da crucificação), bem como em datas festivas, tais como a Páscoa, o Natal, a Quaresma, e assim por diante. Para que a proibição surtisse efeito, foram previstas sanções eclesiásticas, tais como expiação por jejum, orações, podendo chegar até a excomunhão, à época punições duras, mas que de imediato não surtiram o efeito desejado. Para um policiamento efetivo das regras, em muitas localidades, foram criadas então milícias armadas para fazer cumprir as proibições; milícias essas que estavam livres das proibições, podendo travar combate nos dias proibidos sem nenhuma sanção.
No geral, a Paz de Deus, que tinha por objetivo a diminuição dos atos de violência cometidos pelos combatentes contra, principalmente, os mais pobres, os servos, acabou por incitar ainda mais combates, desta vez entre "combatentes do bem" contra "combatentes do mal".Reafirmava-se assim a ideia de "Guerra Justa", o da violência permitida, aquela que tinha um objetivo justo, e nada era mais justo, no período medievo, do que a defesa da Igreja. Se a guerra contra a injustiça era "justa", a guerra para a preservação da "santidade" (e do poder) da Igreja só podia ser "santa".
Guerra Santa
A relação de mútuos interesses, quase sempre tácita, entre a Igreja e a nobreza armada nunca foi plenamente satisfatória para nenhum dos lados, pois muitas questões de fundamental importância para a plena integração de ambos ou demoraram a ser respondidas, ou nunca o foram. Questões que fatalmente levaram a disputas armadas envolvendo a Igreja e os imperadores.Uma destas questões ficou conhecida como a Disputa das Investiduras2, que, tangencialmente, girava em torno da pergunta:
"O papa outorga poderes aos imperadores para que estes governem, ou são os imperadores que outorgam poderes ao papa?".
Em 1076, o desacordo quanto a resposta levou o papa Gregório VII3 (1073-1085) - São Gregório VII - a excomungar e a depor o imperador do Império Germânico Henrique IV, que para buscar reconciliação foi obrigado a fazer penitência pública em Canossa, depois de ter passado três dias esperando para ser atendido pelo papa.Para fazer valer sua decisão de primazia do Poder Espiritual (do papa) sobre o Poder Temporal (dos imperadores), o papa Gregório VII montou um verdadeiro exército, do qual faziam parte tanto combatentes mercenários, que lutavam a soldo, quanto senhores feudais, atraídos para junto da Igreja por meio da vassalagem. A prática da formação de um "Exército Eclesiástico" tinha sido iniciada com o papa Gregório VI (1045-1046), o diferencial ficou por conta daquilo que se defendia. No primeiro caso, o papa Gregório VI usou o exército para a defesa do território da Igreja, a região central do que hoje é a Itália (os Estados Pontifícios), já no caso de Gregório VII, a intenção era defender não mais o território da Igreja, mas sim a própria Igreja, a convocação do exército tinha como objetivo, em última instância, a defesa da Fé. Uma mudança aparentemente sutil, mas que alterou por completo a forma como a guerra e a violência eram até então encaradas.Da "Guerra Justa", que tinha um caráter defensivo (até então entendido como "proteção" contra uma agressão), surge a noção de "Guerra Santa", feita não mais para punir um agressor, mas sim para derrotar um adversário (o inimigo da Fé e também do papa). O soldado de Cristo tem agora, além da incumbência da defesa do território, o dever de levar o combate para onde quer que a Fé esteja sendo ameaçada.
Dessa alteração, surgiu aquilo que seria apontada como solução quase que definitiva para a questão do "encaixe" dos combatentes na estrutura social das Três Ordens. A função dos pugnant era a de fazer a guerra contra os inimigos da Fé, pouco importando onde esses inimigos estavam.Portanto, quando o Papa Urbano II (1088-1099) no Concílio de Clermont (sul da França), em 27 de novembro de 1095, conclamou:
"[...] Que se dirijam, portanto ao combate contra os Infiéis [...] aqueles que até esta data se envolviam em guerras privadas e abusivas somente para prejuízo dos fiéis [...] que lutem agora contra os bárbaros aqueles que se batiam contra seus irmãos e seus pais [...]".
Aqueles que o escutavam, responderam com um sonoro "Deus vult!" (Deus quer!), o brado de guerra da Primeira Cruzada (ou Cruzada dos Barões). O pedido para a defesa da Fé por meio da violência foi ouvido e entendido. Desse concílio, saíram os soldados de Cristo, que em 1099 retomaram a cidade de Jerusalém.
Templários Os "Pauperes Comitiones Christi Templique Salomonici"
"[...] Para a edificação, ou antes para a confusão de nossos próprios cavaleiros, os quais guerreiam não por Deus, mas pelo Diabo, falaremos da maneira como vivem os Cavaleiros de Cristo [...] isso mostrará toda a diferença entre a Cavalaria de Deus e a deste mundo [...]".
São Bernardo De laude novae militiae - Elogio da nova cavalaria
Os Pobres Companheiros de Combate de Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecidos como Templários, foi uma ordem religiosa-militar fundada no decorrer do ano de 1120, de cuja fundação pouco, ou nada, se sabe com certeza.
O que sabemos é que seguiam a uma regra, a Regra de São Bento, obedeciam a um mestre e se comprometiam a defender os peregrinos que se aventuram nos caminhos que levavam para Jerusalém e os locais sagrados citados na Bíblia. Foram reconhecidos pelo Concílio de Troyes (1129), tornando-se uma ordem autônoma, que respondia somente ao papa.Acusada por agentes do rei francês Felipe, o Belo, a ordem foi processada pela Santa Inquisição e suprimida em 22 de março de 1312, na bula papal Vox in Excelso do papa Clemente V (1305-1314). No processo inquisitório que sofreram constam, entre outras, as acusações de renegarem Cristo, de serem idólatras e praticarem atos sodomitas. Seu último mestre, Tiago de Molay, foi preso na França em 13 de outubro de 1307. Condenado à morte na fogueira, foi executado nos jardins do palácio do rei francês, na Île de la Cité, na noite de 18 de março de 1314.

No momento em que a Igreja pegou em armas, sua tão almejada sociedade perfeita, harmoniosa, perene, em que cada um exercia sua função diligentemente, sem procurar mudar aquilo que lhe foi incumbido por uma Vontade Divina, ruiu

Os quase dois séculos de história dos Templários está envolto em um emaranhado de lendas e contradições, sendo que o aspecto mítico dos feitos da ordem e de suas práticas supera em muito as verdades sobre a ordem.Os Templários foram a primeira ordem religiosa- militar a ser criada, sendo seguidos por outras como os Hospitalários, os Teutônicos, a Ordem de São Lázaro (dos leprosos) e outras. Sua origem está intimamente ligada à Primeira Cruzada e à vitória alcançada em Jerusalém (o nome "Templário" vem do fato de utilizarem as ruínas do Templo de Salomão como base de operações). Eram combatentes que, após a retomada da Terra Santa, tornaram-se monges, porém, monges armados. Uma força militar que surgiu no seio da Igreja, totalmente devotada à defesa da Fé. Desde os primórdios, esta era a primeira vez que a Igreja contava com um exército formado não de mercenários como antes, mas de seus próprios membros. Religiosos e militares. Um orant que era também um pugnant. Alguém que exercia, ao mesmo tempo, duas funções dentro da estrutura social. Como estava estabelecido no princípio das Três Ordens: "[...] Estas três partes que coexistem não suportam serem separadas [...]". Do mesmo modo que não suportam serem separadas, também não suportam estarem incorporadas.No momento em que a Igreja pegou em armas, sua tão almejada sociedade perfeita, harmoniosa, perene, em que cada um exercia sua função diligentemente, sem procurar mudar aquilo que lhe foi incumbido por uma Vontade Divina, ruiu. Não havia mais nenhuma justificativa para que cada um ficasse restrito à sua função primordial. Se aquele que nasceu para orar também podia combater, aquele que nasceu para trabalhar também podia almejar fazer outra coisa.Com o nascimento dos Templários, as Três Ordens desaparecem.
Os nove bravos
Essa designação foi utilizada para definir as figuras históricas que serviram de inspiração para os cavaleiros medievais de diversas ordens, religiosas ou não. O curioso é verificar que muitas delas são figuras míticas, ou seja, de existência duvidosa ou ligadas a histórias, enquanto outras são figuras que de fato existiram. O primeiro a agrupar esses modelos foi o cantor de gestas (baladas) francês do século XVI, Jacques de Longuyon, que os descreveu em sua obra Voeux du Paon, de 1312. A tabela abaixo mostra essa divisão em trios, com destaques para figuras do paganismo, do judaísmo e do cristianismo.

Para saber +
DEMURGER, Alain. Os Cavaleiros de Cristo: as ordens militares na Idade Média (sécs. XI a XVI). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2002.
DUBY, Georges. A Sociedade Cavaleiresca. São Paulo: Martins Fontes, 1989.______. Guilherme Marechal ou o Melhor Cavaleiro do Mundo. São Paulo: Editora Graal, 1988.
SILVA, Pedro. História e Mistérios dos Templários. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

HOMENAGEM

Morre José Saramago (1922 - 2010)


Aos 87 anos, falece o único escritor português a ganhar o prêmio Nobel de Literatura
Monique Cardone

Romancista, jornalista, dramaturgo e poeta, José Saramago morreu às 12h30 desta sexta-feira, em consequência de falência múltipla dos órgãos. O escritor estava em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Segundo o site oficial da Fundação José Saramago, o autor morreu estando acompanhado pela família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila.Luiz Schwarcz, editor e fundador da Companhia das Letras que publicava os livros de Saramago no Brasil, disse em seu blog como ficou sabendo da morte do amigo.“Acabo de ver o escritor José Saramago morto. Quando a notícia apareceu na internet, liguei pelo skype para Pilar (esposa do escritor), que sem que eu pedisse me mostrou José deitado na cama, morto. Tenho falado com Pilar quase todos os dias. Sabia que não havia chance de recuperação, o destino de José já estava traçado, os médicos não acreditavam mais na possibilidade de um novo milagre, como o do ano passado, quando venceu, contra todas as expectativas, os problemas pulmonares que o acometiam”, relatou Schwarcz.
José Saramago, além de ganhar o prêmio Nobel de Literatura (1998), é considerado responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Entre suas maiores conquistas também está o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em Portugal.
A ligação com o Brasil ficava evidente nas frequentes visitas ao país e nas amizades com o escritor Jorge amado, com o fotógrafo Sebastião Salgado, com o músico Caetano Veloso e intelectuais, como Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras.
“Saramago era um amigo desde os anos 80. Uma boa e grande amizade que começou em 1981 quando nos conhecemos. Sempre acompanhei o percurso literário dele, mesmo antes de conhecê-lo. Era um escritor excepcional,” disse o historiador muito emocionado.
A admiração por uma das obras do escritor levou o cineasta brasileiro Fernando Meirelles a adaptar “Ensaio sobre a cegueira”, que fala sobre uma epidemia que torna cego os habitantes de uma cidade, para o cinema.
O Ministro da Cultura, Juca Ferreira, divulgou nota de pesar pelo falecimento do autor. “O escritor José Saramago mantinha relações privilegiadas com o Brasil. Esteve presente em diversos eventos literários no país e se tornou muito popular antes mesmo de conquistar o Prêmio Nobel. Em romances como “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, o Brasil faz parte das reflexões do grande escritor.”
O autor português sempre teve muita ligação com a história, seja na vida pessoal, como em seus romancas. Em entrevista exclusiva à RBHN, em 2008, o autor aconselhou aos historiadores: “A imaginação pode ajudar a aproximar do leitor matérias muitas vezes áridas”.
A obra “A História do Cerco de Lisboa”, publicado pela primeira vez em 1987, pode ser interpetrada como uma mistura de ficção e realidade. No romance, Raimundo Silva, revisor de livros, introduz em um tratado de história (intitulado História do Cerco de Lisboa) um erro voluntário: “os cruzados não ajudaram os portugueses a conquistar Lisboa”; apenas inserindo a palavra “não”. Essa falha proposital muda os acontecimentos do conto e, ao mesmo tempo, mostra a capacidade do escritor em modificar com facilidade o que estava consagrado historicamente.
A história do cerco da capital de Portugal, que nos é ensinada na escola, acontece no ano de 1147 e envolve o processo de reconquista cristã da península Ibérica quando os portugueses, com a ajuda das Cruzadas, tomaram a cidades dos mouros.
No decorrer do texto, os vários cercos vão caindo: tanto o histórico da cidade de Lisboa, como o vivido pelo personagem Raimundo. No romance, Saramago escreve com habilidade e emoção entrelaçando literatura e história, como em “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “Jangada de Pedra”.
A história mundial também sempre teve interesse para Saramago e por causa de fatos históricos, como o fascismo e a censura em Portugal, ele foi morar na ilha que fica no meio do Atlântico. A mudança foi motivada porque o livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) apresentava sua visão ortodoxa sobre o messias cristão e o livro foi proibido no país. Em 1992, o governo não inscreveu o romance no Prêmio Literário Europeu porque considerou ofensivo aos católicos portugueses por comparar o nascimento de Jesus ao de qualquer outro homem. E, assim, o escritor abandonou de vez a sua terra.
Os acontecimentos mais recentes também eram alvo das críticas do autor. E causou muitas polêmicas. Em 2002, Saramago visitou a Cisjordânia e no encontrou com Iasser Arafat comparou a ocupação israelense ao Holocausto de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra.
A última publicação de Saramago foi “Caim” (2009) que é um olhar irônico sobre o Velho Testamento e também foi alvejado pela Igreja. Em sua passagem por Roma, em 2009, o autor chamou o Papa Bento XVI de “cínico” e disse que a “insolência reacionária” do catolicismo precisa ser combatida com a “insolência da inteligência viva”.
Além da saudade, o escritor deixa um legado importante para literários, históriadores e fãs de suas obras. Entre tantas relíquias estão os romances “Terra do Pecado” (1947), “Manual de Pintura e Caligrafia” (1977), ” Levantado do Chão” (1980), “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “História do Cerco de Lisboa” (1989), “O evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), “Todos os Nomes” (1997), “A Caverna” (2000), “O Homem Duplicado” (2002), Ensaio Sobre a Lucidez (2004), “As Intermitências da Morte” (2005) e “A Viagem do Elefante” (2008) e “Caim” (2009).

A copa de 70: o uso político do futebol

Abaixo encontra-se um texto retirado da obra, Para Viver Juntos: História, da editora Edições SM, páginas 218 e 219. Esse texto juntamente com os site, tem por objetivo ser um guia para o trabalho: Futebol e ditadura no Brasil.





Em plena ditadura militar, o Brasil venceu a Copa do Mundo realizada no México em 1970.
A seleção canarinho tomou-se tricampeã mundial, um feito inédito na história do futebol
As relações entre esse esporte e a política sempre alimentaram muitas polêmicas. Para alguns intelectuais, o futebol serviria para mascarar a realidade e pôr em segundo plano violência praticada pelo Estado policia.
A vitória da seleção poderia ficar restrita às discussões sobre a eficiência do time de Pelé, Tostão, Carlos Alberto e Rivelino. Porém, durante o governo Médici, havia a campanha ufanista do "Pra frente, Brasil", que pretendia divulgar a ideia de um Brasil em pleno desenvolvimento, para a qual contribuíam a construção da Transamazônica, das usinas hidrelétricas e outras obras. A seleção vitoriosa era a personificação desse sonho de "Brasil grande".
Em meio às perseguições aos opositores e à prática da censura, a propaganda oficial apresentava os resultados econômicos da era do "milagre econômico". O êxito na economia e a conquista da Copa foram capitalizados pela ditadura.
Como não podia haver crítica nem existia liberdade de opinião e expressão, alimentou-se o ufanismo. Defender o país e o governo era quase obrigatório, no passo do slogan mais repetido à época: "Brasil: ame ou deixe-o".
A televisão
No início da década de 1970, a televisão era um veículo popular nas classes médias dos centros urbanos. Os jogos da Copa do México foram os primeiros a ser transmitidos pela TV, em rede nacional, embalados pelo hino:
Noventa milhões em ação,
Pra frente Brasil,
Do meu coração...
Todos juntos vamos,
Pra frente Brasil,
Salve a Seleção!
De repente
É aquela corrente pra frente,
Parece que todo o Brasil deu a mão...
Todos ligados na mesma emoção...
Tudo é um só coração!
Todos juntos vamos,
Pra frente Brasil!
Brasil!
Salve a Seleção!!!

Aparentemente singela, essa canção composta por Miguel Gustavo reforçava a noção de país unido com um único objetivo, numa mesma emoção. A propaganda ditatorial tinha uma mensagem semelhante: os que divergiam governo eram considerados inimigos. A “corrente pra frente" do futebol vinculava-se "Brasil grande" dos militares que governavam o país. O autoritarismo pegava carona na euforia festiva.
Uso político
É importante observar que o uso político de um esporte popular, como o futebol, não ocorre por uma só via. Torcer pela seleção brasileira não significa alienação das diculdades do país. E, inversamente, ser consciente dos problemas nacionais não implica torcer pelo fracasso do time brasileiro.
Todavia, no caso do governo Médici, o uso político foi facilitado por estarmos numa ditadura e o governo ter o controle total dos meios de comunicação. O país de Terceiro Mundo que se transformava numa potência futebolística podia, por associação, tornar-se uma potência militar, política e econômica.
O presidente Médici recebeu o time campeão em Brasília e começou a apoiar a Confederação Brasileira de Desporto (CBD), a atual CBF, que a partir de 1971 passou a organizar o campeonato nacional. Em 1979, 94 times disputavam o título nacional. O próprio presidente da CBD, Heleno de Barros Nunes, ao explicar o crescimento da competição, sintetizou a aproximação entre o governo e os dirigentes esportivos: "Onde a Arena vai mal, mais um clube no Nacional".
Se a Arena, o partido governista, perdia apoio e seu poder eleitoral diminuía, à medida que a ditadura caminhava para o fim, o governo investia na construção de estádios e no fortalecimento dos clubes de futebol de todo o país.
O futebol a serviço da ditadura
(...)
Embalada pela conquista no México, a ditadura organizou em 1972 a Taça da Independência para comemorar o sesquicentenário da emancipação política do Brasil. (...) Com o sucesso da seleção, a CBD organizou cinco amistosos em 1971, dez em 1973 e nove em 1974, considerando apenas os jogos contra selecionados nacionais. Articulada à política de integração nacional a CBD passou a organizar o campeonato brasileiro (...) com vinte clubes. Foram construídos trinta estádios entre 1972 e 1975. Mas a elevação dos preços do petróleo no mercado mundial em 1974 trazia de volta a inflação e o endividamento externo, revelando os limites do "Milagre Econômico" e tornando visíveis os sinais e desgaste da ditadura. (...) Justamente porque a economia e o futebol nacional não iam bem em 1974.
Franco Júnior, H. A dança dos deuses: futebol, cultura e sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 144 In: Para Viver Juntos: História, 9° Ano - 1° Ed. - São Paulo: Edições SM
Sites:
Filmes:
O ano em que meus pais saíram de férias.
Pra frente, Brasil.

domingo, 13 de junho de 2010

A formação dos EUA










CIEP 289 CECÍLIO BARBOSA DA PAIXÃO

CURSO NORMAL


Tema: EUA: A conquista de terras em diferentes espaços e tempos.
Turma: 2001





O processo de formação dos Estados Unidos da América. Texto de aprofundamento para o 3° bimestre.


Artigo publicado na Revista Aventuras na História


EUA: os donos do mundo
Nem romanos nem britânicos. Nem persas nem egípcios. Nunca uma nação foi tão poderosa quanto os Estados Unidos são hoje. Como e por que eles se tornaram a maior potência de todos os tempos?
por Igor Fuser
Responda rápido: Quem descobriu os Estados Unidos? Se você é como eu e não sabe a resposta, não se acanhe. Os americanos também não. É que para eles, diferentemente de nós, brasileiros, que marcamos o nascimento do Brasil na chegada de Cabral, o evento fundador de sua nacionalidade é outro: a chegada do advogado britânico John Winthrop a Massachusetts, em 1630. Adepto de uma seita religiosa radical para a época, os puritanos, e descontente com o anglicanismo – a religião oficial dos ingleses e do rei Carlos I –, Winthrop e as cerca de 700 pessoas que o acompanharam deixaram a Inglaterra para criar sua própria sociedade, num lugar ainda intocado pelos vícios: a América. Winthrop e sua turma adoravam a idéia de estarem chegando a uma espécie de Terra Prometida, a ser regida pelas leis divinas e, portanto, predestinada a dar certo e a se tornar um exemplo de virtude para o resto do mundo. Os Estados Unidos ainda levariam 140 anos para nascer, mas a idéia do que é ser americano estava lançada.
Para entender esses primeiros americanos, no entanto, é preciso lembrar como era a Inglaterra e como era a vida por lá, no século 17. Sim, porque os primeiros americanos eram britânicos e, portanto, súditos do maior império de seu tempo.
Desde o século anterior, principalmente no reinado de Elizabeth I, os ingleses vinham assumindo o posto de superpotência que pertencera à Espanha (e do qual até Portugal já tirara uma casquinha). Ser uma potência, na época, era ter navios. E a Inglaterra tinha uma grande, uma baita frota para levar seus produtos o mais longe possível e trazer de lá matérias-primas baratinhas, quando não de graça, para fazer mais produtos e levá-los ainda mais longe. Do ponto de vista social, o vaivém de mercadorias havia criado nas cidades uma camada de homens ricos, chamados burgueses, e uma grande massa de homens pobres, resultado do êxodo rural. Winthrop fazia parte do primeiro grupo, bem como a imensa maioria dos puritanos, que estavam preocupados com a elasticidade moral típica das grandes cidades: ninguém mais ia à igreja, os políticos mandavam mais que os religiosos e o dinheiro mandava ainda mais que os políticos. A colonização de novas terras pareceu, então, uma boa idéia em todos os sentidos e, para colocá-la em prática, a coroa inglesa chamou duas empresas: as companhias de Londres e de Plymouth, que ficaram responsáveis por recrutar, armar e, mais importante, financiar as viagens. É por isso que é comum dizer que a colonização dos Estados Unidos foi feita pela iniciativa privada. Fato que se tornou um dos pilares da civilização norte-americana, do qual eles se orgulham tanto.
Esses seriam os fundadores dos Estados Unidos, mas é bom lembrar que eles não eram os únicos a ocupar o território americano, no século 17. Ou seja, sua Terra Prometida já tinha dono. Os primeiros a chegar lá foram os espanhóis, no século 16. Mais preocupados em explorar as ilhas do Caribe e o ouro e a prata do México, eles se aventuraram pela costa da atual Flórida, onde, quando não estavam procurando a fonte da juventude ou sendo devorados por aligatores, criaram meia dúzia de entrepostos comerciais. No século 17, porém, os espanhóis já não podiam mais sustentar seus interesses imperiais na América e se concentraram em administrar e explorar a Nova Espanha, ou México (região que ia, além do México atual, ao Texas e à Califórnia). Havia ainda uma larga fatia pertencente aos franceses, a chamada Louisiana, que ia do Mississípi à fronteira com o Canadá. Além, é claro, dos índios que já estavam lá. Vinte e cinco milhões deles.
Inimigo interno
A predominância dos colonos ingleses sobre seus vizinhos foi um longo processo que incluiu negociações diplomáticas, algum dinheiro e muita, muita porrada. Os primeiros a dançar, só para variar, foram os índios que ocupavam a região litorânea onde os ingleses aportaram. Quem não fugiu morreu pela guerra e, sobretudo, pelas doenças que os brancos espalhavam, muitas vezes, de propósito. Em 1673, cercado no forte Pitt pelos guerreiros do chefe Pontiac, o general inglês Jeffrey Amherst ordenou ao capitão Simon Ecuyer que enviasse aos índios cobertores e lençóis. Mostra de boa bontade? Que nada: os cobertores vinham direto da enfermaria, onde os soldados padeciam vítimas de uma epidemia de sarampo. Em alguns dias, os ingleses estavam curados e os índios, milhares deles, mortos.
O próprio John Winthrop, eleito o primeiro governador de Massachusetts, tinha uma desculpa na ponta da língua para justificar a tomada das terras dos índios. Ele as declarou “vácuo legal”. Os índios, dizia, não “subjugaram” a terra e, portanto, possuíam apenas “direito natural” sobre ela, mas não “direito civil”. E, como bom advogado que era, para ele um direito apenas “natural” não tinha nenhum valor jurídico.
A oeste e norte dos assentamentos ingleses, colonos franceses ocupavam regiões que, para populações dedicadas à caça e ao comércio de peles, eram de grande importância econômica, como as terras banhadas pelos rios Ohio, Missouri e Mississípi. As hostilidades eram constantes e, até a metade do século, em pelo menos cinco ocasiões os vizinhos acabaram em guerra.
A animosidade entre os colonos na América era alimentada, ainda, pela rivalidade entre Inglaterra e França na Europa, fato determinante nas relações internacionais do século 18. Em pleno processo de desenvolvimento capitalista, a burguesia inglesa via na França, onde a monarquia entrava em crise, um obstáculo a sua expansão comercial, marítima e colonial. A rixa chegaria ao ponto máximo entre 1756 e 1763, durante a Guerra dos Sete Anos, e teria impacto decisivo sobre a vida na América. Após a guerra, com o pretexto de recuperar as finanças do Estado, os ingleses, que já vinham adotando medidas mais rígidas em relação ao monopólio sobre as colônias americanas (como as proibições da fabricacão de aço, em 1750, e de tecido, em 1754), adotaram uma série de leis para garantir as vendas (e os lucros e os impostos pagos pelos produtos de empresas inglesas, particularmente o chá). A insatisfação nas colônias atingiu o máximo quando os territórios da Lousiana, tomados da França, foram declarados da coroa e os colonos, proibidos de pisar por lá. Uma senhora decepção, principalmente para fazendeiros e criadores de gado do sul que esperavam ocupar essas terras.
Em 1774, os americanos estavam cheios dos ingleses e para se livrar deles foram tão, mas tão tipicamente americanos. Primeiro organizaram um boicote (um bloqueio comercial) aos produtos da metrópole. Em seguida, formaram comitês pró-independência que tinham duas funções: fazer propaganda antibritânica e juntar armas e munições. No ano seguinte, a guerra começou e, em 1776, os americanos declararam-se independentes. Para tanto, escreveram um documento maravilhoso. A Declaração da Independência teve grande significado político não só porque formalizou a independência das primeiras colônias na América, dando origem à primeira nação livre do continente, mas porque trazia em seu bojo o ideal de liberdade e de direito individual e o conceito de soberania popular, representando uma síntese da mentalidade democrática e liberal da época. Redigido por Thomas Jefferson, o texto, em seu trecho mais famoso, afirma: “Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre estes a vida, a liberdade e a procura da felicidade. A fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados. Sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade”. Isso, no fim do século 18, soou como revolução. E era. Pela primeira vez na história uma colônia se tornava independente por meio de uma revolução. Com essa iniciativa, os americanos se anteciparam à Revolução Francesa e criaram o primeiro regime democrático do planeta. E isso não era pouca coisa.
Mas os ingleses, é claro, não deram a menor bola para toda essa poesia e enviaram tropas para tomar os principais portos e vias fluviais e isolar as colônias. Liderados por George Washington, os americanos organizaram um exército, formaram milícias populares e reagiram. Mas não lutaram sozinhos: a França, eterna inimiga dos ingleses, entrou na guerra em 1778 e a Espanha, no ano seguinte. Em 1781 as tropas coloniais e francesas derrotaram os ingleses na decisiva Batalha de Yorktown e, em 1783, foi assinado o Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconhecia a independência das 13 colônias.
Rumo oeste
Após a independência, os agora denominados Estados Unidos da América ainda eram um paisinho nanico que se estendia verticalmente entre o Maine e a Flórida e horizontalmente entre o Atlântico e o Mississípi. Mas isso estava prestes a mudar. Alimentados ideologicamente pelo chamado “destino manifesto”, que defendia a idéia de que os americanos teriam sido escolhidos por Deus para a missão de ocupar as terras entre os oceanos Atlântico e Pacífico, os Estados Unidos iniciaram um processo de expansão que se estenderia por mais de um século e que, no final, lhes daria as fronteiras atuais e o posto de quarto maior país do mundo. Primeiro eles foram às compras e, em 1803, adquiriram dos franceses a Lousiana, por 15 milhões de dólares (ou 257 bilhões de dólares em valores atualizados). Em seguida, em 1819, compraram a Flórida da Espanha por apenas 5 milhões de dólares. O Oregon, na costa do Pacífico, cedido pela Inglaterra em 1846, saiu de graça, e o Alasca, comprado da Rússia em 1867, custou 7 milhões de dólares.
O novo país não parava de crescer e, enquanto a Europa era varrida pelas guerras napoleônicas, os Estados Unidos tornavam-se a terra das oportunidades, da liberdade e dos imigrantes. Atraídos pelo trabalho ou pelo ouro – descoberto na Califórnia, em 1848 –, milhões deles chegavam da Inglaterra, Itália, Irlanda, Espanha, Suécia, Polônia e Rússia, entre outros, no maior movimento migratório internacional da história. A população do país saltou de 4 milhões, em 1801, para 32 milhões em 1860.
No campo político, o expansionismo tinha um patrocinador de peso: o presidente James Monroe, que governou entre 1817 e 1825 e foi autor da frase “América para os americanos”. A idéia da chamada Doutrina Monroe era fazer frente à onda recolonizadora que tomou conta da Europa, após a derrota de Napoleão. Para o historiador americano Howard Zinn, a frase “deixou claro para as nações imperialistas européias, como Inglaterra, Prússia e França, que os Estados Unidos consideravam a América Latina como sua área de influência”. Na prática, conforme os interesses territoriais dos Estados Unidos aumentaram, a Doutrina Monroe ganharia outra definição, muito mais sarcástica: “América para os norte-americanos”.
Dita com sarcasmo ou não, a Doutrina Monroe funcionou no caso da ocupação dos territórios do México. Desde que se tornaram independentes da Espanha, em 1824, os mexicanos permitiram que os americanos ocupassem terras no norte do país, exigindo em troca apenas a adoção do catolicismo nessas áreas. Envolvido em constantes conflitos pelo poder e por ditaduras, os mexicanos nunca consolidaram seu poder na região e, em 1845, os colonos americanos proclamaram a independência do Texas em relação ao México, incorporando-o aos Estados Unidos. Iniciava-se a Guerra do México. Em três anos, a ex-colônia espanhola perdeu, além do Texas, o Novo México, a Califórnia, Utah, Nevada e partes do Colorado e do Arizona. Ou seja, depois da guerra, cerca de metade das terras do México incorporou-se aos Estados Unidos.
Restava a conquista das terras indígenas, conhecidas como Oeste Selvagem. Quando os ingleses chegaram, havia mais de 25 milhões de índios na América do Norte e cerca de 2 mil idiomas diferentes. Ao fim das chamadas “guerras indígenas”, restavam 2 milhões, menos de 10% do total. Para o etnólogo americano Ward Churchill, da Universidade do Colorado, esses três séculos de extermínio e, particularmente, o ritmo com que isso ocorreu no século 19 caracterizaram-se “como um enorme genocídio, o mais prolongado que a humanidade registra”.
Ao lado da expansão, veio a prosperidade econômica. Enquanto o norte crescia com o comércio e a indústria cada vez mais sólida, o sul permanecia agrícola e as novas terras do oeste eram tomadas pela pecuária e pela mineração. Ao longo do século 19, essas diferenças se agravaram. “Os Estados Unidos formavam um único país, mas esse país pensava, trabalhava e vivia diferente, abrigando na realidade duas nações: o Norte-Nordeste, industrial e abolicionista, de um lado, e o Sul-Sudeste, rural e escravista, de outro”, afirma o historiador Phil Landon, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Segundo ele, a manutenção da escravidão no Sul, associada a outros elementos também conflitantes, como questões alfandegárias, levaram, em 1860, as duas metades à guerra civil, na qual morreram 620 mil americanos, ou 2% da população.
Fronteira final
O Norte ganhou a guerra, os Estados permaneceram unidos e partiram na direção do desenvolvimento, o que, na época, significava ir mundo afora buscando consumidores para os produtos de sua indústria. O acesso ao Pacífico deu às ambições americanas um caminho óbvio: a Ásia. E foi ali que os Estados Unidos definiram as linhas mestras da sua influência internacional. Ao contrário das potências coloniais européias, que ocupavam e mantinham o controle político de suas colônias – caso da Inglaterra na Índia e da França na Indochina, por exemplo –, a jovem nação americana não estava interessada em exercer o domínio sobre outros povos. Cada país que cuidasse dos assuntos internos à sua maneira, desde que os interesses comerciais americanos fossem preservados. Essa estratégia levava o nome de “Portas Abertas”, ou seja, o acesso dos produtos e dos capitais americanos a qualquer lugar do mundo.
Mas o fato é que nem sempre as portas se abriam apenas com a conversa dos enviados de Washington. Nesses casos, era preciso um empurrãozinho. Foi o que ocorreu com o Império Japonês, que ficou fechado, durante séculos, ao intercâmbio com o exterior. Em 1852, depois de 15 anos de infrutíferos esforços diplomáticos, a paciência americana acabou. Quatro navios de guerra, sob o comando do comodoro Matthew Perry, posicionaram-se na baía de Tóquio e apontaram seus canhões para a cidade. Um emissário foi à terra para negociar – e ameaçar – as autoridades japonesas. Caso se recusassem a liberar os portos do país ao comércio, seriam bombardeados. Os japoneses toparam. Acordo semelhante foi firmado com a China, que estendeu aos americanos os privilégios concedidos aos europeus.
No fim do século 19, o
país já possuía a maior economia do planeta e uma força naval só comparável à inglesa e à prussiana. O avanço das fronteiras estava esgotado e todos os territórios, no leste e no oeste, colonizados. Uma severa recessão econômica, iniciada em 1893, insuflou as tensões sociais até então mantidas sob controle graças à permanente abertura de novas terras para a exploração. Entre as elites econômicas, começou a prosperar a idéia de que a única saída para a crise era a ampliação dos mercados no além-mar. Na mesma época, um capitão da Marinha americana, Alfred Thayer Mahan, publicou seu livro A Influência do Poder Marítimo na História. A obra, que teve entre seus leitores mais entusiastas o futuro presidente Theodore Roosevelt, propunha a instalação de bases navais americanas no Caribe e no Pacífico e a abertura de uma ligação entre os oceanos pelo Panamá. Só assim seria possível sustentar o avanço comercial dos americanos no Extremo Oriente, onde se concentrava a competição entre as potências econômicas ocidentais. As idéias de Mahan orientaram a decisão de anexar o Havaí, em 1897. Também influenciaram na determinação de recorrer às armas para abiscoitar as possessões espanholas que ainda restavam.
Fazer uma guerra contra a Espanha – e sua influência imperial – tinha entre seus líderes, além de políticos ambiciosos como Ted Roosevelt, donos de jornais, como William Randolph Hearst – o magnata da imprensa que inspirou o filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Era gente que achava que o “destino manifesto”, ou seja, a predestinação americana para liderar os países rumo à democracia, deveria ir além da América do Norte. “A Espanha, em plena decadência, enfrentava rebeliões anticoloniais em Cuba e nas Filipinas, e os partidários da guerra diziam que os Estados Unidos tinham o dever de ajudar os rebeldes em luta pela liberdade”, diz a historiadora Sophia Rosenfeld, da Universidade da Virgínia. O pretexto para a ação militar ocorreu depois da explosão de um navio americano no porto de Havana, em 18 de fevereiro de 1898. Os jornais americanos trataram o fato como um atentado arquitetado pela Espanha. “Querendo evitar a guerra, os espanhóis chegaram a se desculpar, mas hoje há praticamente um consenso entre os historiadores de que a explosão não foi um ato de guerra, mas, provavelmente, acidental”, afirma Sophia. Pressionado pela histeria belicista, em 25 de abril o presidente William McKinley declarou guerra à Espanha.
A Espanha, totalmente despreparada, com equipamento antiquado, quase não ofereceu resistência. Dos 200 mil espanhóis em Cuba, apenas 12 mil foram mobilizados para defender Santiago, na maior batalha terrestre contra os americanos. A Marinha americana arrasou os antigos navios espanhóis sem sofrer qualquer baixa. Nas Filipinas, a situação não foi diferente. A principal batalha naval foi travada na baía de Manila, no dia 1º de maio. Seis dos mais modernos e bem armados navios de guerra americanos enfrentaram a esquadra espanhola formada por sete navios. Três deles eram de madeira e um quarto precisou ser rebocado até o local da batalha. Os canhões instalados em terra, em Manila, não puderam ser usados, pois os comerciantes espanhóis impediram que entrassem em combate temendo que isso provocasse disparos dos navios americanos contra suas propriedades na orla.
Os espanhóis se renderam em menos de quatro meses, em 12 de agosto, e os Estados Unidos emergiram, aos olhos do mundo, como uma verdadeira potência imperial. Cuba, formalmente libertada do jugo colonial, passou a ser administrada pelos americanos, que mantiveram os rebeldes locais à margem do poder. Porto Rico se integrou aos Estados Unidos e as distantes ilhas Filipinas foram anexadas, transformando-se na primeira colônia americana.
Os filipinos, frustrados por não obterem a independência, se rebelaram em 1899. Os Estados Unidos levaram três anos para esmagar a insurreição, numa campanha em que mobilizaram 120 mil soldados. Os combates provocaram a morte de 4 mil americanos e mais de 200 mil filipinos, na maioria civis, vítimas dos bombardeios indiscriminados e da fome, causada pela destruição das lavouras. Foi a primeira vez que os americanos enfrentaram um povo em luta pela libertação nacional.
Poder global
A vitória na Guerra Hispano-Americana garantiu aos americanos o controle do Caribe e da América Central. Na gestão de Ted Roosevelt, iniciada em 1901, o país instalou um regime de tutela política e financeira sobre a região e despachou tropas para o México, Nicarágua, Haiti e outros países, a pretexto de ensiná-los a “eleger os homens certos”, como diziam as propagandas americanas da época, para os postos de governo. A velha Doutrina Monroe, de 1823, ganhou finalmente vigência plena. Em 1904, o Congresso americano adotou como política oficial o direito de intervir nos países latino-americanos que se mostrassem incapazes de garantir a ordem interna ou de honrar suas dívidas com os bancos estrangeiros. Roosevelt escreveu textualmente na sua mensagem ao Congresso, por ocasião de sua posse, que os Estados Unidos, “embora relutantes”, estavam prontos a “exercer seu papel de polícia internacional” na América Latina nos casos em que se verificasse “a crônica incapacidade” (dos governantes locais) ou “a impotência que resulte no enfraquecimento dos laços da sociedade civilizada”.
Os Estados Unidos entraram na Primeira
Guerra Mundial, em 1917, como a única potência hegemônica em seu próprio hemisfério, e saíram dela ainda mais fortes, como a maior força militar do planeta – afinal, foi o Tio Sam quem desempatou o jogo nas trincheiras da Europa, selando a derrota dos impérios alemão, austro-húngaro e turco-otomano. Começava a investida americana pela supremacia global que, no mundo abalado pela recessão do período entre-guerras, pela ascensão das ideologias fascistas e, por fim, pela Segunda Guerra, só se confirmaria nas cinzas de Hiroshima, quando os Estados Unidos deram uma mostra – talvez a maior de todas – de seu poder e determinação militar. “Depois da guerra e diante da destruição sofrida pelos eventuais competidores, os americanos passaram a dominar a maior parte do globo”, diz o historiador Amadeo Giceri, da Universidade Estadual do Kansas. O vazio de poder em escala global e o confronto com a União Soviética – um rival de segunda classe, restrito a seu cinturão de segurança no Leste Europeu e irrelevante como potência econômica – deram aos americanos a chance de alcançar a meta que perseguiam desde o século 19: usar seu poderio militar para abrir o mundo ao comércio e aos investimentos das empresas americanas.
“Os Estados Unidos estenderam sua influência à Indochina e ao Oriente Médio, diante da incapacidade de França e Inglaterra de preservar seus interesses nas ex-colônias”, afirma Giceri. Para ele, a Guerra Fria contra os soviéticos e a teoria da luta contra o “mal maior”, ou seja, o comunismo, justificava a presença e a interferência americana nos assuntos internos dos países espalhados pelo globo. Enfrentar o “mal maior” por vezes significou patrocinar guerrilheiros e golpistas, como no Irã e na Guatemala, na década de 1950. O fim da União Soviética, em 1991, instalou confortável e definitivamente os Estados Unidos no posto de única superpotência.
Ser ou não ser
Mas é justo, diante das guerras do Iraque e do Afeganistão, chamá-los de “império”. Os americanos, de um modo geral, acham muito estranho, e até se sentem ofendidos. Em 230 anos de independência, sucessivos ocupantes da Casa Branca têm se esmerado em desmentir a intenção de dominar outras nações. O primeiro foi McKinley, em 1898, que depois da guerra com a Espanha garantiu que “nenhum desejo imperial se espreita na mente americana”. O último foi George W. Bush em sua campanha à reeleição, que depois de invadir o Afeganistão disse que “nosso país não busca a expansão do seu território, e sim a ampliação do campo da liberdade”. Para o sociólogo americano Michael Mann, a hegemonia dos Estados Unidos contém um paradoxo. Segundo ele, ao espalharem pelo mundo os valores democráticos, os Estados Unidos reforçam a noção de que cada povo deve ser dono do seu próprio nariz. “A ideologia do liberalismo e a disseminação do conceito moderno de soberania nacional trariam embutidos os anticorpos contra qualquer plano de dominação.” Ou seja, se os Estados Unidos são o problema, também são a solução, pois, diferentemente de qualquer conquistador do passado, os americanos, que carregam na bagagem o ideal da liberdade e da democracia, levam junto os canhões e os capitais. Aí residem a força e a fraqueza do seu império.
Terra prometida
Quando chegaram à América, em 1630, os peregrinos queriam construir uma sociedade única, longe dos vícios da velha Europa, que pudesse servir de exemplo para o mundo. Um século e meio depois, ao assinar a Declaração da Independência, os americanos criaram o primeiro Estado democrático sob os ideais da liberdade e da igualdade.
Acima do bem e do mal
Em 230 anos, os EUA mostraram ao mundo do que são capazes
Certidão de nascimento
“Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre estes a vida, a liberdade e a procura da felicidade.” A Declaração da Independência dos americanos sintetizou, 13 anos antes da Revolução Francesa, a mentalidade democrática e liberal do Iluminismo
Abertura dos portos
Dois séculos de isolamento japonês foram por água abaixo, em 1854, quando o oficial americano Matthew Perry e seus navios de guerra obrigaram o Japão a abrir-se ao comércio. A manobra estabeleceu as linhas da política externa americana a partir dali, mostrando ao mundo que havia um novo e poderoso ogador no tabuleiro internacional.
Navios na selvaQuando, em 1903, os EUA retomaram as obras deixadas pelos franceses, parecia impossível dividir o continente em dois e abrir uma rota entre o Atlântico e o Pacífico. O sonho – o Canal do Panamá – se tornou real em 1914 e encurtou em 14 500 quilômetros a viagem marítima entre as duas costas americanas.
Em nome de Deus
A predestinação divina na política americana
Uma noite, no fim do século 19, um homem se ajoelhou para rezar e recebeu, diretamente de Deus, instruções para enviar tropas a um arquipélago distante. Foi assim que o presidente americano William McKinley explicou sua decisão de invadir as Filipinas, em 1898, durante a Guerra Hispano-Americana. Pouco mais de um século depois, o presidente George W. Bush relatou algo semelhante ao falar sobre política externa para um grupo de autoridades palestinas. “Deus me disse para atacar a Al Qaeda, e eu a ataquei. Então ele me deu a ordem de atacar Saddam, e foi isso que eu fiz.”A inspiração divina é um elemento constante na história dos Estados Unidos – ou, pelo menos, nos discursos de seus dirigentes, que, mais de uma vez, utilizaram-na para justificar a expansão das fronteiras do país e, mais tarde, a adoção de políticas imperialistas. Afinal, isso seria o cumprimento de um “destino manifesto”. Ou seja, os americanos estão convencidos de que têm a missão a eles dada por Deus de espalhar pelo mundo a civilização e a liberdade, exatamente da maneira como foram postas em prática nos Estados Unidos. Para os partidários dessa concepção, trata-se de uma tarefa ao mesmo tempo óbvia (a saga americana seria uma prova ou “manifestação” desse fato) e inevitável (ou seja, um “destino”). A expressão “destino manifesto” surgiu às vésperas da guerra com o México, em 1846, quando o jornalista John O’Sullivan defendeu “a realização do nosso destino manifesto de nos espalharmos pelo continente que recebemos da Providência”. Mas a idéia tem raízes mais antigas, que remontam aos puritanos do século 17. Em sua jornada através do Atlântico, esses imigrantes se comparavam aos hebreus do Velho Testamento, cruzando o deserto em busca da Terra Prometida. John Winthrop, o líder puritano, definiu a sociedade construída pelos peregrinos como “uma cidade no alto da colina”, um farol destinado a iluminar a humanidade. O escritor Herman Melville, autor do clássico Moby Dick, expressou a mesma visão. “Somos o povo peculiar, escolhido, o Israel do nosso tempo. Carregamos a arca das liberdades do mundo”, escreveu, em 1850. Mas nem sempre a missão americana foi interpretada como uma carta branca para ocupar territórios. Thomas Jefferson, líder da independência, acreditava que os EUA deveriam difundir os valores democráticos por meio do seu próprio exemplo, que acabaria por ser imitado por outros povos, e não pelo uso da força. Quem concorda com isso é chamado “exemplarista”. Quem acredita que dar o exemplo não basta e que é preciso dar uma mãozinha para que os outros conheçam a verdade leva o nome de “vindicatista”. Quem pensa, porém, que a tese da predestinação só voltou com Bush, que se autoproclama autorizado a exercer a liderança global em benefício de todos, está enganado. Madeleine Albright, secretária de Estado na gestão de Bill Clinton, foi uma defensora das mais entusiastas. Em 1997, ao justificar o lançamento de mísseis contra o Iraque, Albright afirmou, num programa de televisão: “Se nós temos que usar a força, é porque somos a América. Somos a nação indispensável. Nós temos estatura. Nós enxergamos mais longe em direção ao futuro.”
Pais da pátria
Cinco homens que fizeram a América
Gênio da lâmpada
Thomas Edison (1847-1931) foi um dos maiores inventores de todos os tempos – e, na hora de ganhar dinheiro, não tinha nada de cientista maluco. Ao todo, registrou 1 097 patentes. Seu feito mais rentável, um aperfeiçoamento que deu viabilidade comercial à lâmpada incandescente, permitiu que ele criasse a Edison General Electric – que se transformou num gigantesco conglomerado, existente até hoje. Edison nasceu pobre, tirava péssimas notas na escola e ficou quase surdo na adolescência. Isso o tornou um excelente telegrafista, que não se distraía com os ruídos do ambiente. Sua invenção mais conhecida foi o fonógrafo, mas ele também ajudou a criar a filmadora e a desenvolver o telefone. Não acreditava em Deus e não tinha hobbies ou qualquer divertimento fora do trabalho.
Ás no volante
Criador da linha de montagem, Henry Ford (1863-1947) reinventou a indústria. Em 1903, depois de vencer corridas com um quadriciclo que construíra, fundou a Ford Motor Company. Produzindo em série, a empresa popularizou os automóveis. Com filiais no Canadá, na Europa e na Austrália, Ford foi pioneiro entre as multinacionais e chegou a ver sua marca em 90% dos carros do mundo. Reduziu a jornada de trabalho e deu participação nos lucros aos funcionários, mas nunca perdeu sua ojeriza aos sindicatos. Certa vez, resolveu dobrar o salário dos empregados. Não era generosidade: com mais dinheiro no bolso, eles compravam carros. Ao morrer, era um dos três homens mais ricos do mundo.
Comandante da vitória
Onze em cada dez estudiosos concordam que Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) foi o maior presidente americano do século 20. Apesar de ter as pernas paralisadas por uma doença desde 1921, não usava cadeira de rodas em público (andava com a ajuda de uma armação metálica sob as roupas e se apoiava numa bengala). Em 1932, eleito para o primeiro de quatro mandatos, combateu a Grande Depressão investindo milhões em obras públicas, que geraram empregos no país todo. Era o New Deal (“novo acordo”), que incluiu a criação de um sistema de saúde pública e previdência. Após salvar a economia do país, Roosevelt o conduziu na vitória sobre o nazismo. Morreu um mês antes do fim da Segunda Guerra, quando se preparava para presidir a sessão inaugural das Nações Unidas.
Papai disney
Típico self made man americano,Walt Disney (1901-1966) nasceu pobre e terminou a vida milionário. Aos 10 anos, vendia jornais e cigarros no trem. A partir de 1923, dedicou-se a fazer filmes de animação. O sucesso só veio cinco anos depois, com a estréia no cinema de Mickey, o expoente da mais popular turma de personagens infantis do século 20. De 1955 em diante, Disney entregou a parte criativa a uma equipe de artistas e, com a inauguração da Disneylândia, iniciou seu império de parques temáticos. Na década de 50, denunciou alguns ex-colaboradores como “comunistas” e, até o fim da vida, atuou como informante da polícia, vigiando as atividades sindicais em Hollywood.
O sistema é deleCom uma fortuna de mais de 100 bilhões de dólares, Bill Gates é o patrono da revolução dos microcomputadores iniciada na década de 80. Nascido numa família rica de Seattle, em 1955, Gates abandonou a Universidade Harvard em 1977 para fundar sua própria empresa, a Microsoft. Com o sistema Windows, lançado em 1985, desbancou seus competidores e dominou o mercado de softwares – onde costuma ser acusado de recorrer a práticas ilícitas. Homem mais rico do mundo, é também o líder mundial em donativos para atividades filantrópicas: tem uma fundação que concede bolsas de estudos a minorias raciais e financia pesquisas para o tratamento de doenças.
A bomba
Em 6 de agosto de 1945, em Hiroshima, no Japão, uma clara mensagem ofuscou os olhos do mundo. Os americanos não eram apenas os primeiros capazes de desenvolver uma bomba nuclear. Eram os únicos com coragem de usá-la.
Onde nenhum homem jamais esteve
Quando o astronauta Neil Armstrong espetou a bandeira americana na Lua, em 1969, mostrou ao mundo do que a determinação, a grana e a tecnologia dos EUA eram capazes. Um passo gigantesco para o país predestinado ao sucesso.



Saiba mais
Livros
Incoherent Empire, Michael Mann, Verso, 2003 - O autor é um críticos da hegemonia americana pós-Guerra Fria.
O Paradoxo do Poder Americano, Joseph S. Nye Jr., Unesp, 2002 - Professor de Universidade de Harvard e um dos mais respeitados cientistas políticos americanos considera a liderança de seu país benéfica para o mundo.Special Providence, Walter Russel Mead, A. Knof, 2003 - Tecnologia, força e democracia se misturam para explicar por que os americanos foram bem-sucedidos onde os europeus fracassaram.



segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Cultura no Estado Novo


CINEMA E HISTÓRIA





Cenas do filme: Romance Proibido
Ao estudarmos a cultura no Estado Novo e a importância desses filmes no processo educativo e propagandístico desse novo regime (O filme começa a ser filmado em 1939) o nosso material didático nos deu como exemplo os filmes Inconfidência Mineira e Romance Proibido. A seguir encontram-se algumas curiosidades do filme, Romance Proibido.
Em sala, analisaremos essas informações, para relacioná-las com o período estudado.

Romance Proibido

- O roteiro é inspirado na idéia de Paulo Wanderley para o filme "Saudade", que Adhemar Gonzaga pretendia dirigir em 1930. As personagens são, em sua estrutura, as mesmas. Porém, as situações e o cunho didático nacionalista foram introduzidos posteriormente.- Típico exemplar do cinema brasileiro dos anos de guerra e do Estado Novo, "Romance Proibido", a exemplo de "Aves sem ninho" e "Caminhos do céu", é filme nacionalista e austero, que exalta o valor dos seres humanos que abdicam de suas aspirações pessoais em benefício do progresso da coletividade, através do nobre exercício de uma profissão.
- Estreou no Rio de Janeiro nos Cinemas Plaza, Astória, Olinda, Ritz e República, a 18 de dezembro de 1944. O maior lançamento já obtido para filmes do cinema brasileiro. Em São Paulo, no Cinema Metro, a 14 de dezembro de 1944.
- Estréia de Dercy Gonçalves no cinema, sem ser figurante.
- Romance Proibido foi dirigido por Adhemar Gonzaga em meio ao contexto da Segunda Guerra Mundial, o que significou uma produção arrastada - começou em 1939 -, complicada do ponto de vista técnico - faltava filme virgem, reagentes, etc. - e com reflexos na parte artística.
- Era uma refilmagem disfarçada de Barro Humano e do inacabada Saudade, com a história deslocada para o contexto do Estado Novo. Em vez do final feliz original, a protagonista agora ficava sozinha e decidia levar a educação para as comunidades do interior, em missão patriótica tão ao gosto do momento.
- O nacionalismo gonzagueano flertava com o autoritarismo varguista em sua face de renovação espiritual e social do homem brasileiro, com direito à presença do projetor cinematográfico em plena sala de aula, como um instrumento fundamental de difusão da educação e da cultura.
- As grandes qualidades de Romance Proibido estão em sua força como documento de época, revelando um desencanto com a elite perdulária, vazia e descompromissada politicamente, e uma adesão ao ideal do "novo homem brasileiro" estadonovista. Bem entendido, o nacionalismo gonzagueano se serve do contexto do momento, mas não sem fazer certos reparos e indicar os limites do projeto governista. É particularmente interessante o contraste que se estabelece entre os freqüentadores chiques do cassino e a apresentação de um número de bailado na escola nacionalista de dança folclórica, e a introdução do projetor cinematográfico na escola pública, sem prejuízo do consumo de cinema, qualquer que seja a cinematografia (no filme, corta-se da sala de aula para a porta de um cinema que está exibindo um western norte-americano), sabendo-se o quanto parte do governo getulista era xenófobo à América.
- O filme não sobreviveu completo, perdendo-se certos trechos, substituídos para efeito de compreensão da estória por fotografias e legendas. Mesmo assim evidencia as potencialidades e os problemas de um cinema de estúdio no Brasil àquela altura. Há prodígios cenográficos, como o prédio da escola, assim como limitações gravíssimas, como a ausências de móveis em certos ambientes, substituídos por réplicas singelas.

- Sinopse extendida: Passando por dificuldades financeiras em sua fazenda, Cavalcanti vem ao Rio de Janeiro buscar a filha Tamar, que estuda em um colégio interno. No retorno ela reencontra Carlos, sua grande paixão e de quem está noiva há tempos. Resolvem marcar o casamento para a volta de Carlos da capital federal, embora haja quem duvide que o enlace se consume. O boêmio Carlos viaja com o grande amigo e companheiro de farras Jararaca. Após acertarem as dívidas com o banco, resolvem fazer uma incursão pela noite do Rio. Carlos conhece e se apaixona por Gracia, uma coquete dama da sociedade, sem saber que ela e Tamar são grandes amigas. Quando a verdade é revelada, Gracia rompe o namoro e decide lecionar no interior do país, juntando-se ao esforço educacional e civilizatório do governo, sem imaginar que o destino ainda testaria seus sentimentos e sua determinação. (fonte: Arquivos da Cinédia)

Fonte: http://www.meucinemabrasileiro.com/filmes/romance-proibido/romance-proibido.asp