Vida de professor da rede pública

Súplica Cearense

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O "ECA"

O excesso de liberdade,causa estragos...
Seu Juiz, o que eu faço com meu filho?"
“Seu juiz, o que faço com meu filho?”
Em 25/01 o jornal “O Globo” publicou uma reportagem sobre pais que recorrem ao judiciário para tentar impor a seus filhos limites e fazer com que eles obedeçam regras e normas impostas por estes pais.Este fato exige que reflitamos de forma cuidadosa sobre as razões que poderiam ter originado tal fenômeno. Por que estes pais não conseguem exercer sua autoridade natural sobre estas crianças e adolescentes? A resposta não está somente dentro destes lares e muito menos apenas com estes pais, A resposta se inicia na década de 80 do século passado.
O final da ditadura militar no Brasil teve conseqüências que ainda não foram totalmente estudadas.
Por razões eleitorais muitos homens públicos brasileiros resolveram criticar o regime que se extinguia e associarem a própria imagem a idéia de democracia plena. Isto permitiu, ou ocasionou, a distorção de conceitos diversos.As idéias de ordem, regras, normas e autoridade passaram a ser automaticamente associadas à ditadura e autoritarismo. Qualquer um que não se declarasse a favor da total e completa liberalização era considerado seguidor da falecida ditadura. Consolidou-se a idéia de que ninguém poderia ser impedido de fazer o que bem entendesse, sem dar satisfações a quem quer que fosse, desde que não fosse ilícito. Antigas instituições sociais que estabeleciam normas de comportamento e convivência passaram a ser consideradas castradoras e repressoras da personalidade humana. Neste ambiente de liberdade ampla nascem a constituição de 1988 e o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) de 13/07/1990. Estas leis dão ênfase à liberdade e à garantia de direitos porém fazem poucas referências, particularmente o ECA, a deveres e obrigações. É óbvio que defender estes direitos dava a políticos prestígio e popularidade.As crianças não ficaram imunes a este clima de completa liberdade. Criou-se a idéia de que se tornaram seres especiais, intocáveis. Acima da lei e do Estado. 28 jan (1 dia atrás) Maria Lucia A necessidade de se cumprir a nova legislação (ECA) permitiu que as crianças abandonassem antigas posturas de comportamento. Nas escolas o uniforme praticamente desapareceu. Alunos passaram a freqüentá-las com roupas vulgares e, muitas vezes, pornográficas. Porém graças ao ECA não podiam ser impedidas de ingressar na instituição escolar e assistir aulas sob nenhuma hipótese. Logo perceberam isto.
Nas ruas, crianças passaram a vagar durante a noite e a madrugada sem que pudessem ser questionadas visto que agora estava garantido o seu direito de ir e vir. Passou a ser comum dezenas de adolescentes nas madrugadas das grandes cidades se embriagando, para falar o mínimo, sem qualquer intervenção do poder público. Crianças e adolescentes também não mais podiam ser advertidos ou ter coibidas atividades anti sociais visto que isto poderia ser entendido como constrangimento e passível de processo criminal.
Obviamente as empresas que produziam artigos específicos para crianças e adolescentes não perderam a oportunidade de aumentarem suas vendas. A infância foi deliberadamente vulgarizada e mercantilizada. Aos jovens foram impostos produtos e atitudes que traziam grandes lucros a todos. Não raro crianças de seis ou sete anos eram vistas em festas de aniversário semi-nuas e simulando se masturbarem “na boquinha da garrafa”. Venderam-se todo tipo de produtos e idéias, desde calças jeans que deixam a “bundinha empinadinha” a bebidas energéticas que “te dão asas”.
Nos meios de comunicação o sexo passou a ser vendido livremente em todos os horários. A palavra censura foi proibida nestas empresas. Não raro tórridas cenas de sexo eram apresentadas em folhetins de televisão em horários matutinos e vespertinos. A mídia deixava claro que o hedonismo era a sua opção filosófica. Seriados de televisão para adolescentes criavam a idéia de que a virgindade era uma anomalia e que a gravidez precoce uma etapa divertida da vida. 28 jan (1 dia atrás) Maria Lucia Na música, a vulgaridade já não era mais a tônica mas a pornografia plena. Além disto letras passaram a idealizar e fazer apologia do crime e da violência. Bailes em que adolescentes permanecem até 6 ou 7 da manhã o sexo é lugar comum e drogas são vendidas livremente. Mais uma vez em nome da liberdade tudo é aceito e tolerado.
Antigos valores como respeito a mais velhos e professores assim como procurar não usar palavrões em público passaram a ser ridicularizados por todos e estudar passou a ser coisa de “nerd”.
A sociedade brasileira assistiu a tudo isto, assim como seus governantes, acreditando que não intervir era manter a opção democrática. Na verdade por razões eleitoreiras e lucros magníficos assistiram à destruição de valores éticos e morais sem a coragem ou responsabilidade necessária para se oporem.
Antigos “freios” institucionais que garantiam uma formação honesta e decente foram substituídos por leis permissivas e hipócritas que em nada melhoram a sociedade.
Junte-se a tudo isto a decadência da Escola brasileira, os exemplos de corrupção e enriquecimento ilícito assim como da impunidade generalizada, e temos todos os ingredientes necessários para a tragédia que ora se constata.A família assistiu a tudo impotente. Como se opor a um movimento tão amplo e completamente apoiado pela mídia? Como declarar que não aceitava tanta liberdade? Como dizer para o filho que não se pode tirar vantagem de tudo e é preciso respeitar a todos sem se parecer velho e superado? Ou bobo? Não se pode atirar sobre esta família a responsabilidade única pelo desajuste de crianças e adolescentes.
Não se trata de perguntar ao meritíssimo o que fazer com o filho. Trata-se de resgatar princípios e valores e perceber que nem sempre cumprir regras e normas fixas é se submeter a uma ditadura.

A voz solitária de uma educação sem diretrizes
às vezes me questiono como uma pessoa que não está envolvida na realidade educacional da cidade do Rio de Janeiro,pode ser indicada para Secretaria Municipal de Educação.
Não basta apenas pegar o mapeamento das mil e poucas escolas do Rio(não sei o número ao certo),ir às coordenadorias pra dar o ar da presença ou simplesmente fazer reuniões com os diretores de cada escola para dizer que conhece a política educacional.
A nossa realidade só pode ser conhecida e mudada,quando se trata de professores ,que saem de salas de aula,participantes do processo e que tem conhecimento de causa.
Estes sim,sabem das nossas dificuldades,do que precisamos e do que necessitam os alunos.Se ficarmos no "achismo" ou o que pode ser vira um caos.
Outra coisa,falar que profissionais de uma rede tão extensa de ensino necessita de cursos de capacitações e universitários-estagiários para reforço de aprendizagem,é a mesma coisa que nos chamar de inaptos e/ou incapazes. Saibam que,caros leitores,somos concursados, passamos por provas públicas dificílimas e que temos experiência de sala de aula pra dar e vender. Podem ter certeza que, apesar de enfrentarmos dupla jornada e termos salários bastante inferiores e ainda por cima lidarmos com a falta de estrutura física e humana, damos tudo ao nosso aluno :empenho,interesse em que ele aprenda e muitas vezes tiramos do nosso minguado salário alguns reais pra festinhas de durante ou final de ano,uma vez que não podemos pedir um níquel qualquer ao aluno. Nos defrontamos também com pais que não ajudam no processo educacional, alheios ao entrosamento escola X comunidade. Tudo isso,caro leitor,é o que se passa.E como se não bastasse,ainda vem uma leiga dizer que temos que nos esforçar, quer o fim do "absenteísmo.Quer dizer : abandono, desleixo e pouco caso. O que é isto?Como se fala dessa maneira ?
Porém , o que me deixa mais perplexa é a submissão dos colegas,abaixando as cabeças e dizendo amém.Fora o sindicatos dos profissionais de ensino que,no auge da sua hierarquia,fica inerte e omisso diante do quadro.Pra onde caminha a educação ?Para um estado de calamidade tal que daqui alguns anos será irreversível.Sinceramente,caro leitor, temos dentro da nossa rede de ensino,profissionais excelentes que,poderiam exercer a função de secretária.Profissionais que conhecem a realidade e sabem o que nós realmente precisamos.Havia necessidade de importar de São Paulo uma administradora de empresas,isso mesmo,de empresas.Escola não é empresa e nunca será.Lidamos com crianças,seres em desenvolvimento,futuro do país,não temos fins lucrativos.O lucro é a nossa ralização,a qual está sendo minada por palavras e atos de pessoas sem conhecimento.Fica aqui registrado os desabafos de uma profissional de ensino que,apesar de tudo ainda não perdeu as esperanças.
Acesso: 01/02/2009

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